O filósofo reconhece-se pela posse inseparável do gosto da evidência e do sentido da ambiguidade. Quando se limita a suportar a ambiguidade, esta se chama equívoco. Sempre aconteceu que, mesmo aqueles que pretenderam construir uma filosofia absolutamente positiva, só conseguiram ser filósofos na medida em que, simultaneamente, se recusaram o direito de se instalar no saber absoluto. O que caracteriza o filósofo é o movimento que leva incessantemente do saber à ignorância, da ignorância ao saber, e um certo repouso neste movimento.

MERLEAU-PONTY, M. Elogio da filosofia.
Lisboa: Guimarães, 1998 (adaptado).

O texto apresenta um entendimento acerca dos elementos constitutivos da atividade do filósofo, que se caracteriza por

  • a

    reunir os antagonismos das opiniões ao método dialético. 

  • b

    ajustar a clareza do conhecimento ao inatismo das ideias. 

  • c

    associar a certeza do intelecto à imutabilidade da verdade. 

  • d

    conciliar o rigor da investigação à inquietude do questionamento. 

  • e

    compatibilizar as estruturas do pensamento aos princípios fundamentais.

Já na primeira frase do trecho, o filósofo Merleau-Ponty relaciona a filosofia ao rigor da investigação (o “gosto da evidência”) e à inquietude do questionamento (o “sentido da ambiguidade”). Assim, mesmo filósofos que buscam um saber próximo à ciência positiva não deixam de estar abertos ao questionamento, ao movimento “do saber à ignorância”.