Vó Clarissa deixou cair os talheres no prato, fazendo a porcelana estalar. Joaquim, meu primo, continuava com o queixo suspenso, batendo com o garfo nos lábios, esperando a resposta. Beatriz ecoou a palavra como pergunta, "o que é lésbica?". Eu fiquei muda. Joaquim sabia sobre mim e me entregaria para a vó e, mais tarde, para toda a família. Senti um calor letal subir pelo meu pescoço e me doer atrás das orelhas. Previ a cena: vá, a senhora é lésbica? Porque a Joana é. A vergonha estava na minha cara e me denunciava antes mesmo da delação. Apertei os olhos e contraí o peito, esperando o tiro. [...] 

[...] Pensei na naturalidade com que Taís e eu levávamos a nossa história. Pensei na minha insegurança de contar isso à minha família, pensei em todos os colegas e professores que já sabiam, fechei os olhos e vi a boca da minha vó e a boca da tia Carolina se tocando, apesar de todos os impedimentos. Eu quis saber mais, eu quis saber tudo, mas não consegui perguntar.

POLESSO, N. B. Vó, a senhora é lésbica? Amora. Porto Alegre. Não Editora, 2015 (fragmento).

A situação narrada revela uma tensão fundamentada na perspectiva do

  • a

    conflito com os interesses do poder.

  • b

    silêncio em nome do equilíbrio familiar.

  • c

    medo instaurado pelas ameaças de punição.

  • d

    choque imposto pela distância entre as gerações.

  • e

    apego aos protocolos de conduta segundo os gêneros.

O texto de Natália Borges Polesso aborda os dilemas de uma jovem homossexual que, em um jantar de família, teme a revelação de sua orientação sexual. A tensão do texto é fundamentada, portanto, no silêncio que se estabelece em nome do equilíbrio familiar, manifestado no medo que Joana tem em assumir sua sexualidade para sua família.