O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a
imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás
de casa.
Passou um homem e disse: Essa volta que o
rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.
O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” porque a
No poema, a atribuição do nome (“enseada”) baseia-se em um conceito tido como universal, retirado do dicionário ou criado pelo senso comum. O eu lírico, no entanto, associa o acidente geográfico que a palavra denomina a uma “cobra de vidro”, conferindo-lhe um universo de significado, a seu ver, mais rico e sugestivo do que aquele contido na definição usual. Daí sua impressão de que “o nome empobreceu a imagem”.