Leia o texto e responda ao que se pede.
– Não veem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai subindo às nuvens? A seus pés ainda está a seca raiz da murta* frondosa, que todos os invernos se cobria de rama e bagos vermelhos, para abraçar o tronco irmão. Se ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto.
José de Alencar, Iracema.
* murta: arbusto, árvore pequena.
a) É possível relacionar a imagem da murta ao destino de Iracema no romance? Explique.
b) A frase “Se ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto” pode ser entendida como uma alegoria do processo de colonização do Brasil? Explique.
a) Na fala transcrita, Iracema ilustra a sua relação com Martim por meio de metáforas ligadas à natureza brasileira. A índia associa a si mesma à murta, planta que morre para que o jacarandá possa alcançar a sua plenitude. Segundo ela, Martim seria o jacarandá. O trecho antecipa o destino da índia tabajara, na medida em que, ao final do livro, Iracema morre, enquanto Martim consagra-se como o pioneiro colonizador do Ceará.
b) Sim. A morte de Iracema pode ser associada, alegoricamente, à trajetória histórica das populações indígenas frente à força da colonização europeia. Historicamente, os índios foram dizimados para a consolidação do domínio português na nova terra. Na alegoria alencariana, a morte de Iracema alegoriza o sacrifício da raça indígena para que surgisse o povo brasileiro, identificado com Moacir – o filho da tabajara com Martim.