Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados, Fogem...
Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia... 

Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece. 

(Poesia completa e prosa. 1961.) 

a) Transcreva da primeira estrofe um exemplo de personificação. Justifique sua resposta. 

b) Cite duas características que permitem filiar esse soneto à estética parnasiana. 

a) O exemplo de personificação na primeira estrofe do poema é "Fecha-se a pálpebra do dia...". A personificação ocorre devido à utilização de um elemento atribuído a seres animados, "pálpebra", para a caracterização de um fenômeno da natureza, "dia".

b) Além do apuro formal dos textos parnasianos, uma característica marcante do parnasianismo é o tom descritivo presente nos poemas. Trata-se de uma estética em que o apelo visual predomina sobre a expressão das sensações e emoções do sujeito lírico. O texto de Raimundo Correa é um soneto italiano, composto de versos decassílabos, com rimas organizadas segundo o esquema ABBA, ABBA, CDC, DCD, o que revela o apreço pela forma clássica, reforçado pelo vocabulário erudito, como se nota na utilização de verbos como "esbraseia", "esbatem" e "esmaecem" e de substantivos como "vértices" e "nódoa". Além disso, ao retratar o pôr-do-sol sobre as montanhas, o poeta assume a descrição como o procedimento predominante em seu trabalho, característica tipicamente parnasiana.