Texto 1

Apenas reproduzimos nas redes sociais o que somos na vida off-line. Mas hoje se convencionou que tudo é culpa da tecnologia. A previsão é sempre de um futuro sombrio, em que as pessoas não se relacionam, não se falam, não se encontram.

Falava-se a mesma coisa da TV. Para os pessimistas há sempre uma praga tecnológica mais atual. Os saudosistas olham para o passado e acham que a vida era mais vida lá atrás.

Não é melhor nem pior. É apenas diferente. Só temos que nos adaptar. As redes sociais podem, sim, nos dar uma falsa impressão de convivência cumprida. Corremos o risco de viver as relações de forma superficial. Sabemos da vida alheia, rimos das mesmas piadas, mandamos coraçõezinhos, distribuímos likes. E, então, voltamos para nossa vida ocupada.

Não dou conta de responder a todos os e-mails, inbox do Facebook, mensagens de WhatsApp. Fico na intenção. Não é egoísmo. É falta de habilidade em ser onipresente em todas as plataformas.

Nunca estivemos tão em contato mesmo à distância. As redes sociais têm o poder de estreitar laços e desvendar afinidades até com desconhecidos.

(Mariliz Pereira Jorge. “As redes sociais têm o poder de estreitar laços”. Folha de S.Paulo, 19.02.2015. Adaptado.)

Texto 2

Não podemos supor que as redes sociais tragam somente meras mudanças de costumes, porque seu peso, associado ao desenvolvimento da informática, é semelhante à introdução da imprensa, da máquina a vapor ou da industrialização na dinâmica do nosso mundo. As redes sociais provocam mudanças de fundo no modo como as nossas relações ocorrem, intervindo significativamente no nosso comportamento social e político. Isso merece a nossa atenção, pois acredito que uma característica das redes sociais é, por mais contraditório que pareça, a implantação do isolamento como padrão para as relações humanas.

Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa volta, ser populares, estar ligados a todos os acontecimentos e participando efetivamente de tudo. Isso é uma verdade, mas também uma ilusão, porque essas conexões são superficiais e instáveis. Os contatos se formam e se desfazem com imensa rapidez; os vínculos estabelecidos são voláteis e atrelados a interesses momentâneos. Além disso, as relações cultivadas nas redes sociais se baseiam na virtualidade, portanto, no distanciamento físico entre as pessoas.

A opinião do outro é apenas a oportunidade para se expressar a sua própria. O outro parece importar, mas de fato não importa. Importam apenas a própria posição e a autoexposição. Daí a constante informação sobre as viagens, os pensamentos, as emoções, as atividades de alguém. É preciso estar em cena e sempre. Há nisso um evidente desenvolvimento do narcisismo e, consequentemente, do reforço do distanciamento entre as pessoas.

(Dulce Critelli. “A ilusão das redes sociais”. www.cartaeducacao.com.br, 07.11.2013. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

As redes sociais estreitam os laços entre as pessoas ou as tornam egoístas?​

Na edição deste ano, a Unifesp trouxe à discussão um assunto bastante difundido nos últimos tempos: uso das redes sociais. O recorte temático, delimitado pela pergunta-tema “As redes sociais estreitam os laços entre as pessoas ou as tornam mais egoístas?”, leva o candidato a uma reflexão bastante importante: as redes promovem um afastamento entre os indivíduos ou os une, rompendo distâncias físicas? Como subsídio para análise, a banca ofereceu dois textos opinativos.

O primeiro deles, publicado no jornal Folha de S.Paulo, apresenta uma visão multifacetada das redes, ainda que um certo otimismo prevaleça. O segundo texto, retirado do site da revista Carta
Capital
, ao contrário, aposta na defesa da tese de que a principal característica da rede social é promover o “isolamento” dos indivíduos.

Considerando a complexidade do tema, ainda que a abordagem possa ser simplificada, o candidato poderia se posicionar da seguinte maneira:

VISÃO OTIMISTA

Apoiado no conceito de que a redes sociais têm um longo alcance e estão se popularizando cada vez mais, o candidato poderia defender a ideia de que há, aparentemente, uma supressão das distâncias ou que, quando elas de fato existem, o contato entre as pessoas tem aumentado. Seguindo essa linha de pensamento, a argumentação poderia se basear na afirmação de que a rede é capaz de unir pessoas - independente das barreiras geográficas - que apresentem as mesmas afinidades, gostos similares, curtam determinadas páginas, formando grupos que, inclusive, possam vir a se encontrar fisicamente.

VISÃO PESSIMISTA

Para defender o isolamento e o egoísmo consequente da autoexposição nas redes, o candidato poderia se valer de grande parte dos argumentos apresentados no segundo texto. De acordo com o artigo publicado no site da revista Carta Capital, as mudanças provocadas pelas redes sociais são tão significativas quanto a introdução da “imprensa, da máquina a vapor ou da industrialização”.  A sensação de proximidade entre os indivíduos nada mais seria, de acordo com tal perspectiva, que fruto de uma ilusão provocada por relações que, de fato,  são instáveis e superficiais. A importância que a opinião do outro teria seria, na verdade, uma forma de se autovalorizar - em caso de concordância -  ou de se sobrepor à opinião alheia em caso de discordância. Tudo tendo em vista, portanto, a manutenção da própria imagem, por meio da constante exibição de viagens, posses, pensamentos.

VISÃO CONCILIADORA

Diante da pergunta-tema, o candidato poderia, ainda, concentrar-se na construção de um posicionamento que levasse em consideração aspectos positivos e negativos das redes sociais. Para defender essa tese, seria interessante considerar que as redes podem, em realidade, suplantar barreiras físicas, mas podem criar também uma falsa sensação de aproximação entre grupos, de uniformidade de pensamento e que o contato é virtual e nada pode superar o contato real. Ainda nessa direção, um dos argumentos possíveis seria o de que não há, de fato, egoísmo, mas certa inaptidão dos usuários, que não sabem lidar com a exposição que as redes propiciam. O velho raciocínio do “uso com moderação” deve dominar esse tipo de argumentação.