O Surrealismo buscou a comunicação com o irracional e o ilógico, deliberadamente desorientando e reorientando a consciência por meio do inconsciente.

(fiona bradley.surrealismo.2001.)

Verifica-se a influência do Surrealismo nos seguintes versos:

  • a

     E nas bicicletas que eram poemas
    chegavam meus amigos alucinados.
    Sentados em desordem aparente.
    ei-los a engolir regularmente seus relógios
    enquanto o hierofante armado cavaleiro
    movia inutilmente seu único braço.

    (João Cabral de Melo Neto. "Dentro da perda de memória ")

  • b

    -Desde que estou retirando
    só a morte vejo ativa.
    só a morte deparei e as vezes até festiva:
    só morte tem encontrado
    quem pensava encontrar vida,
    e o pouco que não foi morte
    foi de vida severina. 

    (João Cabral de Melo Neto. "Morte e a vida de severina ")

  • c

    Um gatinho faz pipi.
    Com gestos de garçom de restaurant-Palace
    Encobre cuidadosamente a mijadinha.
    Sai vibrando com elegância a patinha direita:
    - É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.

    (Manuel Bandeira. "Pensão familiar")

  • d

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    linha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    no meio do caminho tinha uma pedra.

    (Carlos Drummond de Andrade." No meio do caminho")

  • e

    A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
    Havia pouca flores. Eram flores de horta.
    Sob a luz fraca, na sombra esculpida
    (quais as imagens e quais os fiéis?)
    ficávamos.

    (Carlos Drummond de Andrade. "Evocação Mariana")

Os versos de João Cabral de Melo Neto apresentados na alternativa A são marcados pelo ilogismo e pelos irracionalismos típicos da vanguarda surrealista. Isso se pode depreender na referência a "bicicletas que eram pernas", a amigos que engolem seus relógios e a imagens  que tocam o mundo inconsciente e onírico, como o "hierofante [sacerdote ligado a ocultismo] armado cavaleiro [que] movia inutilmente seu único braço".