Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um beneficio para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado — representantes de Deus na Terra —, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.

Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão. 

(A abolição. 2010.) 

"Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nas-
cessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, 
uns, livres, outros, escravos."

No contexto em que se insere, o termo "vilão" deve ser entendido na seguinte acepção: 

  • a

    "aquele que é indigno, abjeto, desprezível".

  • b

    "aquele que reside em vila".

  • c

    "aquele que não tem religião, ateu".

  • d

    "camponês medieval que trabalhava para um senhor feudal". 

  • e

    "aquele que não pertence á nobreza, plebeu". 

Na passagem destacada, a enunciadora opera com oposições: "ricos" vs. "pobres", "livres" vs. "escravos" e "nobres" vs. "vilões". Nesse contexto, "vilão" deve ser entendido como aquele que reside no vilarejo, na vila, não no universo da nobreza.