Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio
que, de uns e de outros olhos derivadas,
se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
(Sonetos, 2001.)
A imagem das lágrimas a formarem um “largo rio” (3ª estrofe) produz um efeito expressivo que se classifica como
A imagem de "lágrimas" que se tornam "largo rio" é uma metáfora hiperbólica, que associa, de maneira exagerada, o choro à água de um grande rio.