SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

"Parece propósito firme do governo violentar a população desta capital por todos os meios e modos. Como não bastasse [...)a vacinação obrigatória, entendeu provocar essas arruaças que, há dois dias já, trazem em sobressalto o povo. Desde ante-ontem que a polícia, numa ridícula exibição de força, provoca os transeuntes, ora os desafiando diretamente, ora agredindo-os, desde logo, com o chanfalho e com a pata de cavalo, ora, enfim, levantando proibições sobre determinadas pontos da cidade."

Correio da Manhã, 12 de novembro de 1904. Disponível em: http://www1.uol.com.br/rionosjornais/rj10.htm

Febre amarela: áreas de vacinação - 2017 

"Diante de antigas e novas emergências sanitárias, como febre amarela, dengue, zika e chikungunya, é inevitável se questionar por que o Brasil parece patinar no combate ao Aedes aegypti e a doenças por ele transmitidas, a despeito dos êxitos obtidos pelos seus cientistas no início do século passado e dos avanços científicos e tecnológicos que se sucederam desde então. Oswaldo Cruz morreu em 11 de fevereiro de 1917 sem testemunhar o surto [febre amarela] que se abateu sobre a cidade já em 1928. De lá para cá, a história tomou rumos que o sanitarista dificilmente suporia: cem anos após a sua morte, o Rio de Janeiro, já não mais sede do governo federal, vive novamente a apreensão de ter a febre amarela batendo a suas portas. Os paralelos com o passado indicam que o país parece ter ignorado algumas lições que poderia ter aprendido ao longo de sua história."

FIOCRUZ. Legado. https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/legado. acesso em 15/11/2017 

• A partir dos textos e das imagens, situe os dois momentos e as respectivas políticas de saúde pública, tendo em vista a relação entre os poderes públicos e a população. 

O primeiro texto e a primeira imagem fazem referência à Primeira República brasileira e, mais especificamente, à política sanitarista adotada durante a presidência de Rodrigues Alves (1902 -06). Na época destacou-se a atuação do médico sanitarista Oswaldo Cruz que, logo após ser nomeado diretor geral de saúde pública, desencadeou uma grande campanha com o objetivo de erradicar do Rio de Janeiro a febre amarela e a varíola.

Nesse contexto foi aprovada a Lei da Vacina Obrigatória (1904), que foi colocada em prática de forma bastante agressiva, sobretudo em bairros populares. Em muitos casos forças policiais acompanhavam as equipes sanitárias, invadindo casas e desnudando o braço de mulheres para vacinação – resultando em exposição francamente questionada pelos costumes da época. Um dos resultados foi a Revolta da Vacina (1904-05), que deixou clara a forma autoritária como o poder público lidava com a população.

 

O segundo texto trata deste século, quando diversos países vivem uma realidade paradoxal. Certas endemias importantes foram controladas, algumas por ação direta dos programas de controle, outras por força das mudanças que a sociedade viveu, principalmente através da urbanização, e as melhorias estruturais associadas ao saneamento. Porém, ainda há uma parcela significativa da população vivendo próxima e abaixo da linha da pobreza. Isso explica parcialmente a existência no Brasil de uma incidência muito elevada de enfermidades, cuja ocorrência está relacionada com as precárias condições em que vive uma parcela expressiva de sua população. Além disso, em espaços geográficos onde há essa conjugação, a maioria das doenças infectocontagiosas - que persistem no Brasil há mais de um século - costuma aparecer. A ocupação desordenada das áreas urbanas e de locais próximos a florestas e beiras de rios agrava a situação. Some-se a isso a falta de esclarecimento e de atitudes preventivas por parte da própria população para ocorrer a expansão de diversas doenças, atingindo todos os anos um grande número de brasileiros.
 

Exemplo disto verifica-se no recente surto de febre amarela que atinge o país devido, entre outros aspectos, às condições climáticas favoráveis para a reprodução e sobrevivência dos mosquitos transmissores, especialmente em regiões com florestas equatoriais e tropicais. O processo de desmatamento de ambientes florestais amplia o risco de contaminação, pois o contato entre os transmissores e os seres humanos se intensifica.

Vale ressaltar que tais enfermidades não são exclusivas das camadas mais carentes da população, mas encontram nas más condições sanitárias e na falta de atenção do Poder Público uma forma de se persistir. Se a maior parte dos brasileiros tem acesso à água encanada e coleta de esgoto em casa, moradores de 9,2 milhões de residências ainda dependem de poços, nascentes, carros-pipa ou da chuva para beber, cozinhar e tomar banho. Já cerca de 2,2 milhões de casas não contam com nenhum tipo de escoamento para o esgoto.