A MÁQUINA DO MUNDO

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
( ... )

O trecho ao lado integra um poema maior da obra Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade. Considerando o poema como um todo, NÃO É CORRETO afirmar que

  • a

    caracteriza-se por um tom sombrio, insere-se nos poemas escuros da obra e apresenta o material temático desenvolvido no poema. 

  • b

    revela o lirismo filosófico e existencial do poeta sob a configuração de uma máquina que se mostra a um desiludido viajante. 

  • c

    personifica um caminhante que aceita o convite que lhe é feito, e decifra a máquina do mundo, compreendendo, assim, o sentido íntimo da vida e de tudo. 

  • d

    mantém uma relação dialogal com mesmo tema de obra de Camões e com a estrutura poético-narrativa da obra de Dante Alighieri.

No poema “A Máquina do mundo”, de Drummond, observa-se um a epifania de eu lírico que toma contato com um conhecimento supremo. A alternativa C afirma que o “caminhante”, eu-lírico do poema, aceita o convite feito pela “Máquina do Mundo”.  Tal afirmação é incorreta, pois, ao longo do texto, nota-se rejeição a esse convite, como se observa no trecho “a máquina do mundo, repelida / se foi miudamente recompondo, / enquanto eu, avaliando o que perdera, / seguia vagaroso, de mãos pensas.”