Os bens e o sangue

VIII


(...)
Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos
para tristeza nossa e consumação das eras
,
para o fim de tudo que foi grande!
                                                     Ó desejado,
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais...
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te contemplamos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro.

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

* “descorçoado”: assim como “desacorçoado”, é uma variante de uso popular
da palavra “desacoroçoado”, que significa “desanimado”.
** “pez”: piche.

Considere o tipo de relação estabelecida pela preposição “para” nos seguintes trechos do poema:

I. “ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais”.

II. “Ó tal como quiséramos para tristeza nossa e consumação das eras”.

III. “para o fim de tudo que foi grande”.

IV. “para melhor servir-nos”.

A preposição “para” introduz uma oração com ideia de finalidade apenas em

  • a

    I. 

  • b

    I e II. 

  • c

    III. 

  • d

    III e IV. 

  • e

    IV.

O enunciado pede que a preposição "para" siga dois requisitos: introduzir uma oração e veicular ideia de finalidade. Isso posto, nos trechos I, II e III, "para" não veicula ideia de finalidade, nem introduz uma oração. No trecho IV, o termo inicia uma oração subordinada adverbial final, na medida em que expressa a finalidade da recusa, como se lê em: "Pois carecia que um de nós nos recusasse / para melhor servir-nos."