(...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...)

Carta de Graciliano Ramos a sua esposa.

(...) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.

(...)

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.

Graciliano Ramos, Vidas secas

As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa

  • a

    o conformismo dos sertanejos. 

  • b

    os anseios comunitários de justiça social. 

  • c

    os desejos incompatíveis com os de Fabiano. 

  • d

    a crença em uma vida sobrenatural. 

  • e

    o desdém por um mundo melhor.

Tanto na carta de Graciliano a sua esposa quanto no excerto de "Vidas Secas", a cachorra Baleia é mostrada como portadora de humanidade, de modo que seu desejo por um mundo de preás remeteria à garantia de alimento e sobrevivência a todos. Logo, a resposta que sintetiza isso seria aquela que aponta para os "anseios comunitários de justiça social".