Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”.

Helena Morley, Minha vida de menina

São características dos narradores Brás Cubas e Helena, respectivamente,

  • a

    malícia e ingenuidade. 

  • b

    solidariedade e egoísmo. 

  • c

    apatia e determinação.

  • d

    rebeldia e conformismo. 

  • e

    otimismo e pessimismo.

Ao abordarem o tema do trabalho, os narradores de "Minha vida de menina" e "Memórias póstumas de Brás Cubas" assumem posturas bastante distintas. Enquanto Brás Cubas rejeita o trabalho, considerado um traço positivo da sua vida ao afirmar "não comprar o pão com o suor do meu rosto", Helena indica que o trabalho a aproxima de um ideal de felicidade, como se nota em "Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro, não seria infeliz". Tais posturas apontam, portanto, uma associação de Brás Cubas com a apatia, e de Helena, com a determinação.