Em 1500, fazia oito anos que havia presença euro peia no Caribe: uma primeira tentativa de colonização que ninguém na época podia imaginar que seria o prelúdio da conquista e da ocidentalização de todo um continente e até, na realidade, uma das primeiras etapas da globalização.
A aventura das ilhas foi exemplar para toda a América, espanhola, inglesa ou portuguesa, pois ali se desenvolveu um roteiro que se reproduziu em várias outras regiões do continente americano: caos e esbanjamento, incompetência e desperdício, indiferença, massacres e epidemias. A experiência serviu pelo menos de lição à coroa espanhola, que tentou praticar no resto de suas possessões americanas uma política mais racional de dominação e de exploração dos vencidos: a instalação de uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos autóctones, assim como a instalação de uma rede administrativa densa e o envio de funcionários zelosos, que evitaram a repetição da catástrofe antilhana.
(Serge Gruzinski. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização, 1999. Adaptado.)
"A instalação de uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos autóctones" contribuiu para a dominação espanhola e portuguesa da América, uma vez que os religiosos
Além das motivações políticas e econômicas para a dominação e consequente colonização europeia na América está a expansão do catolicismo, item fundamental da Igreja Católica em um cenário de intensas disputas religiosas. Para isso fortaleceram-se companhias religiosas, tal qual a dos padres jesuítas, que desenvolveram missões de cristianização dos nativos. No entanto, muitos indígenas se negavam à catequese e, por isso, pelos preceitos da guerra justa acabaram por serem escravizados. Ademais, uma das modalidades de trabalho compulsório na América espanhola era a "Encomienda", que condicionava a utilização do trabalho indígena à sua catequização.