Leia o excedo do "Sermão do bom ladrão', de António Vieira (1608-1697), para responder ás questões de 02 a 08 Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa ar-mada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau oficio; porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: "Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?'. Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com multo, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [..] Se o rei de Macedónia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença em Roma. reinando nela Neto; o que mais me admirou, e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos. ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma dou-trina. Saibam estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o que calam que com o que disserem; porque a confiança com que isto se diz é sinal que lhes não toca. e que se não podem ofender: e a cautela com que se cala é argumento de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [..] 

Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão que furta para comer não val nem leva ao Infeno os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais afta esfera [...]. Não são só ladrões, diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, Já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.  

(Essencial. 2011.)

[...] os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida [...]." (3° parágrafo)

Os termos destacados constituem, respectivamente,

  • a

    (A) um artigo, uma preposição e uma preposição. 

  • b

    uma preposição, um artigo e uma preposição. 

  • c

    um artigo, um pronome e um pronome. 

  • d

    um pronome, uma preposição e um artigo. 

  • e

    uma preposição, um artigo e um pronome. 

Morfologicamente, o primeiro "a" é classificado como preposição que acompanha o pronome relativo "quem". O segundo "a" é um artigo, acompanhando o substantivo "pobreza". Já o terceiro é novamente uma preposição, resultante da regência do verbo "condenar".