E aqui, antes de continuar este espetáculo, é necessário que façamos uma advertência a todos e a cada um. Neste momento, achamos fundamental que cada um tome uma posição definida. Sem que cada um tome uma posição definida, não é possível continuarmos. É fundamental que cada um tome uma posição, seja para a esquerda, seja para a direita. Admitimos mesmo que alguns tomem uma posição neutra, fiquem de braços cruzados. Mas é preciso que cada um, uma vez tomada sua posição, fique nela! Porque senão, companheiros, as cadeiras do teatro rangem muito e ninguém ouve nada.

FERNANDES, M.; RANGEL, F. Liberdade, liberdade. Porto Alegre: L&PM, 2009.

A peça Liberdade, liberdade, encenada em 1964, apresenta o impasse vivido pela sociedade brasileira em face do regime vigente. Esse impasse é representado no fragmento pelo(a)

  • a

    barulho excessivo produzido pelo ranger das cadeiras do teatro.

  • b

    indicação da neutralidade como a melhor opção ideológica naquele momento.

  • c

    constatação da censura em função do engajamento social do texto dramático.

  • d

    correlação entre o alinhamento político e a posição corporal dos espectadores.

  • e

    interrupção do espetáculo em virtude do comportamento inadequado do público.

A única alternativa que representa, inequivocamente, o impasse a que se refere o enunciado é a D. Há uma referência a um possível barulho produzido pelo ranger das cadeiras, e não a descrição do barulho em si, como afirma a alternativa A. Há a admissão de uma posição neutra, com os braços cruzados, como uma das posições possíveis sugeridas, mas não como sendo a melhor a ser adotada, como propõe a alternativa B. A peça é de fato engajada, mas o impasse não advém da constatação da censura que ela possa eventualmente sofrer; isso seria uma possibilidade, e não o que se pode concluir a partir do que se apreende do texto. Não há, por fim, nenhuma indicação de que o espetáculo tenha sido interrompido por causa do comportamento do público, como crava a alternativa E. Por meio da quebra de expectativa, afinal o contexto leva a crer que o personagem se refira a posições políticas, é que a metáfora entre as posições dos espectadores na plateia e o alinhamento político deles se estabelece e cria o efeito de humor.