As atrizes

Naturalmente
Ela sorria
Mas não me dava trela
Trocava a roupa
Na minha frente
E ia bailar sem mais aquela
Escolhia qualquer um
Lançava olhares
Debaixo do meu nariz
Dançava colada
Em novos pares
Com um pé atrás
Com um pé a fim
Surgiram outras
Naturalmente
Sem nem olhar a minha cara
Tomavam banho
Na minha frente
Para sair com outro cara
Porém nunca me importei
Com tais amantes
[..]
Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito para mim

CHICO BUARQUE. Carioca. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2006 (fragmento).

Na canção, Chico Buarque trabalha uma determinada função da linguagem para marcar a subjetividade do eu lírico ante as atrizes que ele admira. A intensidade dessa admiração está marcada em:

  • a

    “Naturalmente/ Ela sorria/ Mas não me dava trela”.

  • b

    “Tomavam banho/ Na minha frente/ Para sair com outro cara”.

  • c

    “Surgiram outras/ Naturalmente/ Sem nem olhar a minha cara”.

  • d

    “Escolhia qualquer um/ Lançava olhares/ Debaixo do meu nariz”.

  • e

    “É natural que toda atriz/ Presentemente represente/Muito para mim”.

A subjetividade do eu lírico ante as atrizes que ele admira está traduzida pela função emotiva da linguagem. A principal marca dessa função é a visão singular com que o enunciador vê as atrizes, marcando a intensidade dessa visão em palavras valorativas como adjetivos e advérbios como presente nas expressões “natural”, “presentemente” e “muito”.