Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões.

“Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho com tormento,
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

verdades puras são, e não defeitos...
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos!”

(Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acessado em 02/08/2016.)

a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades são contrapostas por exercerem um poder sobre o eu lírico. Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exercem sobre a experiência amorosa do eu lírico.

b) Um soneto é uma composição poética composta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos encerram o núcleo temático ou a ideia principal do poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos versos desse soneto de Camões, levando-se em consideração o conjunto do poema?

a) Neste soneto camoniano, as duas divindades que se opõem são Fortuna e Amor. Fortuna é a deusa romana da esperança e da sorte. No primeiro quarteto, nota-se a influência desta sobre o eu lírico, que passa a escrever os versos na perspectiva de experimentar alguma alegria. O contraponto a essa alegria surge no segundo quarteto, com a presença do Amor, também conhecido na mitologia romana por Cupido. O poder que ele exerce sobre as pessoas é o de submeter os indivíduos à sua vontade ou aos seus caprichos, o que, nesse caso, se traduz na ação de atormentar o poeta, escurecendo o seu raciocínio, impedindo-o de revelar aos leitores os enganos do Amor.

b) Nos dois últimos versos, formula-se a ideia de que a compreensão do sentido da obra poética do autor dependerá da experiência amorosa do leitor.