Leia o soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” do poeta português Luís Vaz de Camões (1525?- 1580) para responder a questão.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança1;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem – se algum houve –, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor2 espanto:
que não se muda já como soía3.
(Sonetos, 2001.)
1 esperança: esperado.
2 mor: maior.
3 soer: costumar (soía: costumava).
Elipse: figura de sintaxe pela qual se omite um termo da oração que o contexto permite subentender.
(Domingos Paschoal Cegalla. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, 2009. Adaptado.)
Transcreva o verso em que se verifica a elipse do verbo. Identifique o verbo omitido nesse verso.
Para o eu lírico, qual das mudanças assinaladas ao longo do soneto lhe causa maior perplexidade? Justifique sua resposta, com base no texto.
No oitavo verso, ocorre uma elipse: “e do bem – se algum houve –, [ficam] as saudades”.
De todas as mudanças, a de “mor espanto” é a que aparece no terceto final: “que não se muda já como soía”. Esse verso sugere que as mudanças não seguem um padrão, de maneira que não é possível prevê-las. Ou, em outras palavras: até as mudanças mudam.