Leia o soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” do poeta português Luís Vaz de Camões (1525?- 1580) para responder a questão.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança1;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem – se algum houve –, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor2  espanto:
que não se muda já como soía3.

(Sonetos, 2001.)

esperança: esperado.

2 mor: maior.

3 soer: costumar (soía: costumava).

Em um determinado trecho do soneto, o eu lírico assinala a passagem de uma estação do ano para outra. Transcreva os versos em que isso ocorre e identifique as estações a que eles fazem referência. Para o eu lírico, tal passagem constitui um evento aprazível? Justifique sua resposta.

Os versos são: “O tempo cobre o chão de verde manto, / que já coberto foi de neve fria”. Neles, sugere-se a passagem do inverno (“neve fria”) para a primavera (“verde manto”).

         Com base no verso seguinte (“e enfim converte em choro o doce canto”), pode-se concluir que o evento não é considerado aprazível pelo eu lírico. Embora, culturalmente, a primavera seja vista de maneira mais positiva do que o inverno, essa transformação, no poema, provoca o “choro”, o que, aliás, é coerente com outras imagens do poema (como a das “mágoas” e das “saudades”), que também apontam para traços negativos.

 

Obs.: Em algumas edições da obra camoniana, em lugar de “enfim” aparece “em mim”, o que confirmaria a visão negativa que o eu lírico tem dessa transformação.