À medida que a ciência se mostrou capaz de compreender a realidade de forma mais rigorosa, tornando possível fazer previsões e transformar o mundo, houve a tendência a desprezar outras abordagens da realidade, como o mito, a religião, o bom senso da vida cotidiana, a vida afetiva, a arte e a filosofia. A confiança total na ciência valoriza apenas a racionalidade científica, como se ela fosse a única forma de resposta às perguntas que o homem se faz e a única capaz de resolver os problemas humanos.

(Maria L. de A. Aranha e Maria H.P. Martins. Temas de filosofia, 1992.)

Com base na ideia de “verdade absoluta”, explique a diferença entre mito e ciência. Considerando a expressão “confiança total na ciência”, explique como o próprio conhecimento científico pode se transformar em mito.

A ideia de uma verdade absoluta está associada, normalmente, ao surgimento da filosofia e da ciência, ou seja, de maiores exigências de justificação racional para o conhecimento. Isso ocasionará um desprezo ou uma menor importância a outras formas de saber, consideradas inimigas da libertação racional do homem.

Contudo, nos casos em que essa pretensão é aplicada como resolução única de problemas humanos, pode haver distorções. A capacidade de prever e transformar o mundo, aliada a uma confiança absoluta, pode fazer com que a própria humanidade seja vista como um objeto ou meio na realização de intenções de dominação de determinados grupos. Assim, o extermínio de seres humanos pode ser feito de forma científica e “racional”, ou os meios de comunicação de massa podem servir de instrumento de manipulação de consciências. Nesse sentido, em vez de libertar o homem, a ciência pode servir de meio de dominação e ilusão, aproximando-se do que seria o mito.