Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder a questão.

À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia.

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.

(Poemas escolhidos, 2010.)

Mais recorrente na poesia arcádica, verifica-se neste soneto barroco o recurso, sobretudo, ao seguinte lema latino:

  • a

     “locus horrendus” (“lugar horrível”). 

  • b

    “locus amoenus” (“lugar aprazível”). 

  • c

    “memento mori” (“lembra-te da morte”). 

  • d

    “inutilia truncat” (“corta o inútil”). 

  • e

    “carpe diem” (“aproveite o dia”).​

No soneto apresentado, Gregório de Matos trabalha o antigo tópico latino do locus amoenus, que é a representação de um lugar aprazível, de caráter bucólico. Isso se pode perceber por meio de referências como “fonte”, “pássaros cantores”, “horizontes de mil cores”, “flores”, “rica Flora”.