Ser jovem hoje é pior do que antes, e pode piorar

Se formos considerar alguns dos principais desafios atuais —entre os quais a mudança do clima, a dívida pública e o mercado de trabalho—, uma conclusão óbvia emergirá: ser jovem hoje é relativamente pior do que era há um quarto de século. No entanto, na maioria dos países, a dimensão geracional é notável pela ausência, no debate político.

1- Vamos começar pela mudança no clima. Contê-la requer mudança de hábitos e investimento em redução de emissões para que as futuras gerações tenham um planeta habitável. O alarme foi acionado pela primeira vez em 1992, na Conferência Eco 92, no Rio de Janeiro, mas ao longo dos últimos 25 anos pouco foi feito para conter as emissões. Dada a imensa inércia inerente ao efeito estufa, a distância entre comportamento responsável e irresponsável começará a resultar em diferença nas temperaturas dentro de apenas um quarto de século, e consequências graves surgirão dentro de apenas 50 anos. Qualquer pessoa que tenha mais de 60 anos hoje mal perceberá a diferença entre os dois cenários. Mas o destino da maioria dos cidadãos que hoje tenham menos de 30 anos será afetado de maneira fundamental. Com o tempo, o prazo adicional para ação obtido pelas gerações mais velhas terá de ser pago pelas mais novas.

2- Considere a dívida, a seguir. Desde 1990, a dívida pública cresceu em cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) na União Europeia e nos Estados Unidos (e muito mais no Japão). Dadas as taxas de juro quase zero, o arrasto que isso acarreta para as rendas é quase zero, por enquanto; mas, porque a inflação virtualmente inexiste e o crescimento é anêmico, houve uma estabilização no endividamento. Com isso, a redução de dívidas demorará mais do que se imaginava depois da crise financeira mundial, o que privará as gerações futuras do espaço fiscal de que necessitariam para investir em ações quanto ao clima ou na contenção de ameaças à segurança.

Os futuros aposentados representam outra forma de dívida. Os sistemas de repartição em vigor em muitos países são gigantescos esquemas de transferência intergeracional. É fato que todos contribuem enquanto estão trabalhando, e todos se tornam beneficiários na aposentadoria.

Mas a geração baby boom (as pessoas nascidas da metade dos anos 40 à metade dos anos 60) contribuiu pouco para o sistema de aposentadorias em regime de repartição, porque o crescimento econômico, o tamanho da população e a baixa expectativa de vida de seus pais tornavam fácil financiar as aposentadorias. Tudo isso agora se inverteu: o crescimento se desacelerou, a geração baby boom forma uma anomalia demográfica que pesa sobre seus filhos, e a expectativa é de que suas vidas sejam longas.

Os países nos quais reformas foram introduzidas cedo nos sistemas de aposentadoria conseguiram limitar o fardo que recai sobre os jovens e manter um equilíbrio razoavelmente justo entre as gerações. Mas os países nos quais as reformas foram postergadas permitiram que esse equilíbrio coloque os jovens em posição desvantajosa.

3- Por fim, considere o mercado de trabalho. Ao longo dos dez últimos anos, as condições pioraram consideravelmente para os novos ingressantes, em muitos países. O número de jovens classificados como “nem empregados e nem estudando ou em treinamento” é de 10,2 milhões nos Estados Unidos e de 14 milhões na União Europeia. Além disso, muitas das pessoas que ingressaram recentemente no mercado de trabalho vêm sofrendo de baixa segurança no emprego e de períodos repetidos de desemprego. Na Europa continental, especialmente, os trabalhadores jovens são os primeiros a sofrer durante as desacelerações econômicas.

Quanto a todas essas questões, - clima, dívida, aposentadorias e emprego -, as gerações mais jovens se saíram relativamente pior do que as mais velhas, nos desdobramentos dos últimos 25 anos. Um símbolo revelador é que muitas vezes a pobreza é maior entre os jovens do que entre os idosos.

Isso tudo deveria ser uma questão política importante, com implicações significativas para as finanças públicas, proteção social, política tributária e regulamentação do mercado de trabalho. Mas o novo conflito de gerações teve pouco efeito político direto. Mal é mencionado no debate eleitoral e em geral não resultou no surgimento de novos partidos ou movimentos.

Jean Pisani-Ferry, professor da Escola Hertie de Administração Pública, em Berlim, é comissário geral da France-Stratégie, instituição de consultoria política em Paris. Folha de S. Paulo, 06/02/2016. Adaptado.

 

No texto acima reproduzido, um estudioso da Administração Pública examina as perspectivas futuras dos jovens de hoje sob três aspectos fundamentais — a mudança climática, a dívida pública e o mercado de trabalho — para concluir que eles se encontram em situação pior que a dos jovens de gerações anteriores.

Tendo em conta as ideias apresentadas nesse texto e valendo-se de outras informações que você julgue relevantes, redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a expor seu ponto de vista sobre o tema A atual geração de jovens brasileiros e o futuro: expectativas e possibilidades.

         A banca examinadora escolheu o tema A atual geração de jovens brasileiros e o futuro: expectativas e possibilidades (já expresso na proposição). Manteve a tradição de trazer temas atuais e próximos aos candidatos, ligados à dificuldade da vida em sociedade. Houve uma pequena mudança: não fizeram as instruções, em que vinham contidas informações como o uso de norma-padrão, quantidade mínima e máxima de linhas, entre outras comuns à prova de redação.

         A reflexão é sugerida a partir de um único texto motivador, de autoria de Jean Pisani-Ferry, professor da Escola Hertie de Administração Pública, em Berlim, e comissário-geral da France-Stratégie. Com o título “Ser jovem hoje é pior do que antes, e pode piorar”, o professor desenvolve três pontos cruciais que usa para defender sua tese de que ser jovem hoje é mais difícil do que antes. Os pontos são:

 

1. Clima. Houve uma piora do clima por conta da emissão de gases poluentes que afetam o efeito estufa, aumentando a temperatura média do planeta. Assim, pioram as condições e a qualidade de vida. Vale salientar que o efeito estufa não é um problema, pois é ele que mantém a temperatura em limites adequados à condição de vida humana. O problema é o aumento da concentração dos gases que geram o efeito estufa, pois isso eleva a temperatura.

 

2. Dívida pública / Sistema previdenciário. A manutenção das dívidas públicas de diversos países, embora chegando ao ponto de estagnação, não mais aumentando, impõe baixos níveis de rentabilidade e crescimento econômico. Tal situação, somada à geração baby boom – termo que se refere, principalmente, à “explosão” de filhos após a Segunda Guerra Mundial –, propicia um grave problema ao sistema previdenciário: embora o cidadão contribua durante a vida para compor sua aposentadoria, há mais aposentados a cada ano e menos jovens no mercado de trabalho. A pirâmide se inverte, dificultando o pagamento das aposentadorias e da dívida pública, que passa para as próximas gerações pagarem.

 

3. Mercado de trabalho para os jovens. Há menos absorção da mão de obra jovem, como exemplifica usando números de jovens desempregados dos EUA (10,2 milhões) e UE (14 milhões).

 

A leitura dos argumentos e das informações apresentados pelo professor Jean Pisani-Ferry faz perceber que foram deixadas muitas “contas” a serem pagas pelos “jovens” de hoje e pelos das próximas gerações, tanto as contas da dívida pública e das aposentadorias quanto as ligadas à recuperação do meio ambiente.

 

Encaminhamentos possíveis

 

         A partir dos pontos expostos no texto motivador e de dados do próprio repertório, o candidato deveria expor seu posicionamento sobre as expectativas e possibilidades de futuro dos jovens brasileiros, podendo apontar:

 

  • Como resolver ou amenizar o problema do sistema previdenciário, mesmo com o aumento de aposentados e a esperança de vida deles. Pode-se criar outras formas de prover recursos à aposentadoria: reforma tributária, criação de mais fundos previdenciários, etc. Por que a aposentadoria deve ser composta apenas pelos recursos pagos por aqueles que estão trabalhando e contribuindo com o sistema previdenciário?

 

  • Saídas possíveis para a diminuição do valor da dívida pública, de forma que se abra espaço para crescimento econômico e geração de empregos, principalmente aos jovens, que são os maiores afetados pelas crises econômicas.

 

  • Maneiras de incentivar instituições tecnológicas de pesquisa para sustentabilidade ecológica, principalmente que visem a tecnologias ligadas à reciclagem e à energia limpa. Como são instituições recentes, elas carecem de pessoal capacitado, abrindo margem às novas formas de “ver” o mundo.