Considere as imagens e o texto, para responder.
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II / São Francisco de Assis*
Senhor, não mereço isto.
Não creio em vós para vos amar.
Trouxestes-me a São Francisco
e me fazeis vosso escravo.
Não entrarei, senhor, no templo,
seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.
Dai-me, senhor, a só beleza
destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem,
paralela à das cinco chagas.
Mas entro e, senhor, me perco
na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
por que esta nova cilada?
Senhor, os púlpitos mudos
entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.
Perdão, senhor, por não amar-vos.
Carlos Drummond de Andrade
*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
Analise as seguintes afirmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do Barroco:
I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez os sentidos, de modo que o público não possa escapar.
II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando nele uma reação forte de maravilhamento.
III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar, entre outras coisas, a preeminência da Igreja.
A experiência que se expressa no poema de Drummond registra, em boa medida, as reações do eu lírico ao que se encontra registrado em
Afirmação I: correta. Uma das marcas da arquitetura barroca é a profusão de elementos estéticos (escultóricos, pictóricos e propriamente arquitetônicos) que objetivam direcionar os sentidos e o pensamento do espectador às questões da fé.
Afirmação II: correta. O poema é a prova da capacidade do arquiteto em maravilhar o observador, visto que o enunciador se mostra completamente fascinado com o templo.
Afirmação III: correta. Todo o ornamentalismo da arte barroca volta-se para a afirmação dos valores católicos, que, no contexto do império luso-brasileiro do século XVIII (quando a igreja foi erguida), era um dos elementos culturais de mais força na sociedade colonial.
A beleza da arte barroca leva o eu lírico ao impasse de, apesar de não acreditar em Deus, sentir-se fascinado com a arte religiosa.