Leia os versos iniciais do poema The White Man’s Burden (O fardo do homem branco).
Take up the White Man’s burden
Send forth the best ye breed -
Go send your sons to exile
To serve your captives' need
To wait in heavy harness
On fluttered folk and wildYour
new-caught, sullen peoples,
Half devil and half child (...)
(Rudyard Kipling, Rudyard Kipling’s Verse. Disponível em http://kiplingsociety.co.uk/poems_burden.htm. Acessado em 17/10/2016.)
O poema de Rudyard Kipling foi escrito em Londres, em 1898, após a estadia do autor nos EUA. Considerando-se o contexto do imperialismo do século XIX, o poeta expressa
O poema "The White Man’s Burden: The United States and The Philippine Islands” foi escrito em 1899 por Rudyard Kipling - ou seja, em um contexto onde se havia iniciado a Guerra Filipino-Americana e o controle americano sobre Porto Rico, Filipinas e Guam (Tratado de Paris), assim como a ingerência americana em Cuba (resultado da Guerra Hispano-Americana). É desse contexto (considerado um expansionismo, de fato, visto que houve a anexação oficial de territórios por parte do governo americano) de que o poema trata, estando o mesmo caracterizado corretamente pela alternativa A (que relaciona o poema à defesa do expansionismo norte-americano, justificado como um dever moral - o "fardo" do homem branco). Assim, não é a expansão para o Oeste que está sendo abordada pelo poema, e sim a expansão do território americano a partir da anexação e controle dos territórios já citados.
Mesmo que a questão abordasse a Marcha para o Oeste, consideramos inadequado e incorreto afirmar que nesse processo "o propósito 'civilizador' (fardo do homem branco) esteve pouco presente no trato com as populações nativas da América do Norte que, ao invés de 'integradas', foram empurradas para 'reservas indígenas'", como afirma o gabarito comentado. Na segunda metade do século XIX, a política dos Estados Unidos em relação aos povos nativos passou por um processo de mudança. Se até então muitos políticos e oficiais podiam facilmente defender o confronto e até mesmo o extermínio das populações nativas, por volta de 1870 a defesa de políticas de “assimilação” estava gradualmente se tornando a atitude dominante para enfrentar o chamado "problema indígena". No entanto, assimilação, para a sociedade americana nesse contexto, tinha implicações muito específicas: significava civilizar, o que, por sua vez, era sinônimo de americanizar. Podemos citar, por exemplo, os internatos (native american boarding schools) criados para "assimilar" as crianças nativas à sociedade estadunidense. Nesses internatos havia a imposição do corte de cabelo (tradicionalmente longo nas populações nativas norte-americanas), a troca dos trajes nativos por roupas anglo-americanas, a troca dos nomes das crianças por nomes também anglo-americanos e o ensino da língua inglesa e do cristianismo, assim como de costumes e hábitos diários característicos da sociedade americana. Assim, considerando que esse projeto esteve inserido no projeto maior de expansão para o Oeste e de resolução do chamado "problema indígena", educar era sinônimo de civilizar, e a civilização era um sinônimo de nação anglo-americana.
As próprias reservas indígenas (segundo Richard White, historiador especializado no Oeste americano) foram pensadas não apenas como um local onde as populações nativas seriam alocadas a fim de resolver o problema da expansão territorial dos Estados Unidos; estas seriam também uma “preparação” para que os nativos se integrassem à sociedade americana - fazendo parte de da concepção vigente à época de “segregar para integrar”. As populações nativas, de fato, foram "empurradas" para as reservas indígenas, mas além da questão territorial havia também pressupostos ideológicos e civilizacionais nesse processo.
Então, não podemos afirmar, que a expansão para o Oeste não fez parte de um projeto civilizatório.
Em resumo, consideramos a alternativa A a única resposta possível para essa questão, já que a mesma descreve corretamente os pressupostos do poema de Kipling - visto que o mesmo foi escrito no contexto de interferência dos EUA em territórios como Porto Rico, Filipinas e Cuba, em um processo descrito pelo próprio gabarito comentado (como um desdobramento da Guerra Hispano-Americana). Esse poema, em sua essência, justifica e incentiva o projeto civilizatório dos Estados Unidos.
Apesar desse projeto ser entendido, pelos seus incentivadores, como um "ato de generosidade", a expressão "metade demônio, metade criança" não representa esse "olhar caridoso", e sim o olhar etnocêntrico e paternalista acerca das populações consideradas inferiores - vilipendiadas e infantilizadas nessa expressão.
Resposta oficial: A