Em Coração, cabeça e estômago, há uma ironia no momento de representar as questões referentes à transcendência sentimental e uma crítica à sociedade portuguesa, por causa da valorização hipócrita que foi dada às posições sociais de prestígio, mesmo que falsamente construídas ou frutos de mentiras. Em outro plano, há um elogio às motivações “rebaixadas” da fisiologia humana, como a fome e o desejo sexual, que, mesmo sendo condutas distantes da ideal busca pela realização sensível e racional do Romantismo, estariam ao alcance dos sujeitos. A obra, além disso, não dá espaço para a formação do herói, tal como seria esperado em um texto típico deste movimento, visto que todas as tentativas de elevação moral, comportamental e sentimental são duramente ridicularizadas na obra, colocando em seu lugar o egoísmo e a busca da satisfação física e dos interesses particulares.