As pessoas não estão prontas para opiniões nas redes sociais
André Lopes Blasting News, 30/06/2016
A “liberdade” das redes sociais é algo interessante de discutir. Conversando com um colega de profissão, por meio de um aplicativo de uma rede social, é claro, falávamos sobre as pessoas expressarem suas opiniões nas redes sociais. Que fique claro que, em minha#Opinião, isso é bom! Mas claro que estou sendo “educado” em dizer “expressar suas opiniões”, pois, muitas vezes, eles impõem suas opiniões e mais, transformam a liberdade de expressão em “discurso de ódio”. Grande número de participantes das discussões perde, rapidamente, a capacidade de “argumentação” e passa para grosseria. [...]
A democracia tem sido posta em prática nas redes sociais todos os dias. O grande problema, em minha opinião, não é a liberdade democrática expressa em postagens curtas, longas, imagens ou textos, como este texto, publicado em redes sociais, mas sim, a falta de prática democrática nos discursos/textos.[...]
Lendo algumas postagens e suas discussões, chego à seguinte conclusão: a prática da argumentação inteligente é uma importante maneira de expressar a liberdade de opinião e entender que a liberdade começa na capacidade de interpretar e respeitar a opinião do outro, até porque, isso tudo que escrevi, é a minha opinião.
Disponível em: http://br.blastingnews.com/sociedade-opiniao/2016/06/as-pessoas-nao-estaoprontas-para-opinioes-nas-redes-sociais00993347.html.
Acesso em: 06 set. 2016. Adaptado.
A Arte de Convencer
Especialistas garantem que estudar a arte de convencer os outros virou necessidade não só para quem quer persuadir, mas também para não ser enrolado pela conversa alheia.
Uma boa argumentação abre portas. É no que se acredita desde a Antiguidade, quando as primeiras técnicas retóricas foram criadas para convencer e persuadir o público de uma ideia que, independentemente de ser verdadeira, é eloquente.
Numa era de informação global, no entanto, em que comunicar está na base das relações pessoais e profissionais, estar familiarizado com as principais formas de convencimento virou um trunfo de mão dupla: quem sabe a importância de convencer alguém saberá também não cair tão fácil na primeira lábia de um interlocutor.
"Num mercado altamente competitivo e em acelerada mudança, a habilidade de comunicar ideias e convencer as pessoas da necessidade de mudanças é essencial. Nestas circunstâncias, o domínio das técnicas de persuasão cria um diferencial valioso", diz Jairo Siqueira, consultor em criatividade e negociação. [...]
Mestre em estudos literários pela Unesp, o linguista Victor Hugo Caparica lembra que mesmo as relações interpessoais são, em última análise, relações interdiscursivas. Ou seja: na maior parte do tempo, estamos argumentando em maior ou menor grau com as pessoas que nos cercam, influenciando e sendo por elas influenciados.
In: Revista Língua - por Carmen Guerreiro. Disponível em: http://www.methodus.com.br/artigo/604/a-arte-de-convencer.html). Acesso em: 16 set.2016.
A Arte de Argumentar
Todos nós teríamos muito mais êxito em nossas vidas, produziríamos muito mais e seríamos muito mais felizes, se nos preocupássemos em gerenciar nossas relações com as pessoas que nos rodeiam, desde o campo profissional até o pessoal. Mas para isso é necessário saber conversar com elas, argumentar, para que exponham seus pontos de vista, seus motivos e para que nós também possamos fazer o mesmo.
Segundo o senso comum, argumentar é vencer alguém, forçá-lo a submeter-se à nossa vontade. Definição errada! [...] Seja em família, no trabalho, no esporte ou na política, saber argumentar é, em primeiro lugar, saber integrar-se ao universo do outro. E também obter aquilo que queremos, mas de modo cooperativo e construtivo, traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro.
In: ABREU, A.S. A Arte de Argumentar: gerenciando razão e emoção. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 1999, p. 10. Fonte da imagem: Revista Língua. Ano 8. N. 88, 2013, p. 7
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Diante da inquestionável necessidade de domínio da argumentação na vida em sociedade – seja nas redes sociais ou em outras situações de interlocução –, construa um texto dissertativo-argumentativo que apresente seu ponto de vista sobre o papel da argumentação nas redes sociais, em tempos em que a exposição intensa na web é uma constante.
Sustente seu posicionamento com argumentos relevantes e convincentes, articulados de forma coesa e coerente. Dê um título ao texto.
Seu trabalho será avaliado de acordo com os seguintes critérios: espírito crítico, adequação do texto ao desenvolvimento do tema, estrutura textual compatível com o texto dissertativo-argumentativo e emprego da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Importante: redija seu texto a tinta, no espaço a ele destinado. O rascunho não será considerado. Será desclassificado o candidato que tirar zero na redação.
Nota zero será atribuída se o texto construído apresentar menos de sete linhas (linhas copiadas dos textos da prova serão desconsideradas); fugir ao tema ou apresentar parte do texto em desacordo com o tema proposto; não estiver de acordo com o texto dissertativo-argumentativo; apresentar impropérios, desenhos ou quaisquer outras formas propositais de anulação.
Análise da proposta
Afastando-se de temas relacionados à área da saúde, o vestibular para a Faculdade Israelita Albert Einstein solicitou que o candidato elaborasse uma dissertação-argumentativa sobre um tema explícito: o papel da argumentação nas redes sociais.
A coletânea de textos que deu suporte ao tema foi composta de quatro trechos que abordaram diferentes ângulos do assunto, proporcionando ao candidato a possibilidade de orientar sua reflexão segundo variados aspectos.
O primeiro, um comentário postado em uma rede social, aborda a transformação da exposição e do debate de opiniões em imposição de pontos de vista e em “discurso do ódio”. Trata-se de um comportamento agressivo segundo o qual a capacidade de dialogar é substituída pela grosseria. O autor do texto exalta o exercício da democracia por meio das redes sociais, nas quais impera a liberdade de expressão, mas ressalta que falta “prática democrática nos discursos/textos”, falta o embate de ideias saudável e respeitoso em relação ao outro e a suas visões de mundo. Seu próprio texto é a manifestação de sua opinião pessoal, aberta, portanto, a aplausos e críticas, como se espera numa sociedade democrática.
O segundo texto, um artigo publicado na Revista Língua, destaca que a comunicação está nas bases das modernas relações pessoais e profissionais, potencializadas pelas redes sociais e pelos meios de comunicação de massa. Nesse cenário, o domínio de técnicas de persuasão converte-se num diferencial, seja nas interações sociais cotidianas, seja nas profissionais. Para a autora, a dedicação à retórica pode proporcionar uma capacidade de persuasão mais eficiente, bem como uma forma de proteção contra a mesma habilidade de quem pretende enganar. Ela chama a atenção para o fato de que, sob o ponto de vista linguístico, a interação humana é feita por meio de relações interdiscursivas, as quais pressupõem um embate argumentativo constante: em diferentes assuntos e graus de profundidade, estamos sempre tentando persuadir aqueles que nos rodeiam.
O terceiro texto, trecho do livro Argumentar: gerenciando razão e emoção, posiciona-se em favor da arte de argumentar com base na ideia de que o gerenciamento das relações interpessoais feito por meio do domínio de recursos argumentativos favoreceria tanto a vida pessoal como a profissional. Contrariando o senso comum, segundo o qual a atividade de argumentação é entendida como uma guerra em que um vence o outro, o autor destaca que ela pode ser uma forma de integração ao universo do outro, de cooperação, de construção coletiva, “traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro”.
O último texto de apoio traz recomendações de Aristóteles sobre procedimentos necessários à persuasão (aprimorar o meio, a linguagem e o arranjo do discurso). Há muito se estudam os recursos necessários para aumentar a eficiência do discurso, seja ele o que se faz diante de muitas pessoas em situações formais, seja o que travamos com um interlocutor no cotidiano. O trecho destaca, portanto, a necessidade de reflexão e de aprimoramento dessa prática que nos é tão natural.
Encaminhamentos possíveis
Os textos motivadores propõem a análise da importância da argumentação em diferentes esferas da vida em sociedade: nas redes sociais, no mundo do trabalho, nas relações com parentes, amigos ou mesmo desconhecidos. Entretanto, o tema delimita a discussão do papel da argumentação às redes sociais, tão onipresentes no mundo atual. Tomando como base as reflexões propostas pelos textos da coletânea, as que eles desencadeiam, bem como as experiências pessoais e os conhecimentos acumulados pelo candidato, poderiam ser considerados, entre outros, os seguintes aspectos:
- As redes sociais são um campo aberto à liberdade de expressão, à exposição da imagem que o indivíduo pretende projetar de si por meio daquilo que escreve, curte e valoriza culturalmente. Trata-se, portanto, de um espaço virtual em que identidades são expostas, inventadas, reinventadas. Nesse ambiente de contatos múltiplos, é natural que ocorram confrontos.
- A arquitetura das redes sociais, por meio das quais um comentário é visto por inúmeras pessoas, amplia consideravelmente o alcance da opinião: tanta gente conectada, lendo, refletindo e opinando é um fato novo na história da humanidade. O ineditismo da interação das opiniões por meio de um veículo que as potencializa obrigará a humanidade a desenvolver mecanismos mediadores desse tipo de interlocução.
- Apesar de a interação virtual muitas vezes se dar de forma quase sincrônica, em tempo real, pode-se considerar também que o embate entre as opiniões se dá por meio da palavra escrita. O tempo que pode existir entre o texto motivador e o que o comenta permite a depuração da reflexão por parte de quem lê, aumentando a possibilidade de tensões. Ou o contrário: a pressa e a deficiência de entendimento de textos escritos podem turvar os sentidos e exaltar ânimos. Outro aspecto ligado à escrita é a dificuldade de transposição do pensamento para o discurso escrito, habitual fonte de desentendimentos. Na base da dificuldade de argumentar, de alinhar informações e conhecimentos, podem-se apontar as dificuldades no manejo dos recursos da língua escrita.
- Sob a óptica das relações pessoais, a retórica pode ser entendida como forma de fazer um ponto de vista se sobrepor a outros, mas também como forma de neutralizar embates, fazendo os lados contenciosos perceberem as razões que não veem. Se há na argumentação uma finalidade de vitória sobre outros pontos de vista, há, também, uma aplicação diplomática, mediadora e promotora do alargamento das visões de mundo.
- As redes sociais amplificaram o despreparo para lidar com a opinião alheia, a falta de habilidade de argumentar sem ofender, a deficiência de um convívio intensamente democrático. A polarização agressiva de discussões políticas e os debates desrespeitosos sobre fatos do cotidiano revelariam uma carência de cordialidade. Os mesmos códigos de civilidade que se impõem nas relações sociais deveriam migrar para as interações que se dão na vida digital.