A Integração da Amazônia

Leia os textos e observe as imagens:

“Em 16 de junho de 1970, no auge do 'milagre econômico brasileiro', o presidente Emílio Garrastazu Médici assinou o decreto-lei no 1.106, que instituiu o Plano de Integração Nacional (PIN) (...) Uma de suas metas mais ambiciosas era rasgar a imensa Floresta Amazônica de leste a oeste e de norte a sul, encravando em seu âmago uma cruz rodoviária que fosse capaz de descortinar as riquezas escondidas em seu subsolo e proporcionar a colonização da selva, integrando-a à vida nacional.”

HUERTAS, Daniel Monteiro. Da fachada Atlântica à imensidão Amazônica. São Paulo/Belém: Annablume/Banco da Amazônia, 2009, p. 119.

“O que se convencionou chamar de 'grandes projetos' são empreendimentos desenhados pelo Estado nos anos 1960 e 1970 para o desenvolvimento da Amazônia. (...) Tais projetos não demonstravam inicialmente qualquer preocupação com o ambiente natural.

A partir de meados dos anos 1980, esse modelo de ocupação capitalista forçada começa a ser questionado.


http://imguol.com/noticias/2014/02/28/

Pressões internacionais, por meio das agências financiadoras de projetos de desenvolvimento, tais como o Banco Mundial, introduzem o conceito de desenvolvimento sustentável nos financiamentos e logram condicionar o desembolso de verbas para infraestrutura ao desembolso de verbas para a criação e proteção de áreas de preservação ambiental e terras indígenas.”

LIMA, Deborah e POZZOBON, Jorge. Amazônia socioambiental. Sustentabilidade ecológica e diversidade social. Estudos Avançados vol. 19, nº 54, maio-agosto de 2005. Adaptado. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000200004

Considerando as informações contidas nos textos, na foto e no mapa, caracterize o esforço de integração da Amazônia ao quadro socioeconômico de escala nacional, na década de 1970, e avalie em que medida a Amazônia atual expressa tal visão de integração.

O século XX, na sua segunda metade, foi um divisor de águas na história econômica da Amazônia. Antes da década de 1960, os acontecimentos regionais ficavam restritos à economia da borracha, que, de alguma forma, contribuiu para iniciar o processo de acumulação de capital, principalmente nos estados do Pará e do Amazonas. Após a década de 1960, mediante as contribuições da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), Banco da Amazônia e Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), a região ganha densidade no processo de acumulação, e novas cidades e novos desafios passam a surgir.
Para superar tais desafios, o governo implantou o PIN (Plano de Integração Nacional), que pretendia construir as rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém, bem como portos e embarcadouros fluviais. A abertura da Transamazônica teve início em setembro de 1970. A construção dessa rodovia através da bacia Amazônica teria sido determinada por duas razões distintas e complementares: de um lado, uma preocupação geopolítica com os “vazios territoriais e demográficos” e, de outro, o excesso de população pobre do Nordeste.
O programa também visava à colonização e à reforma agrária, prevendo para tanto a elaboração e a execução de estudos e a implantação de projetos agropecuários e agroindustriais. Nesse sentido, estavam previstos também desapropriações, seleção, treinamento, transporte e assentamento de colonos e organização de comunidades urbanas e rurais com seus serviços básicos. Na verdade, a parte mais importante do PIN era seu plano de colonização. No próprio Decreto-Lei nº 1.106, foi determinado que uma faixa de terra de 10 quilômetros ao longo das margens das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém seria reservada para a colonização e a reforma agrária.
Nas últimas décadas, algumas ações governamentais geraram grandes impactos ambientais na região Amazônica. Um desses impactos foi causado na década de 1980 pela construção da usina hidrelétrica de Balbina, que provocou o alagamento de uma área de 3.129 km², resultando na criação de 3.546 ilhas. Esse projeto isolou espécies, prejudicou a migração e a reprodução de peixes, aumentou os índices de extinção de animais, fragilizou as florestas e aumentou a emissão de gases de efeito estufa. Os projetos mais recentes de energia hidrelétrica na região Amazônica apresentam uma nova concepção, fruto da grande pressão nacional e internacional a fim de que os impactos ambientais sejam minimizados. Usinas como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio alagarão áreas expressivamente menores quando comparadas com a da usina de Balbina.
Atualmente, parte expressiva da Amazônia está protegida por lei. A implantação de Unidades de Conservação de proteção integral e de uso sustentável, somando-se às regras que estruturaram as Áreas de Proteção Permanente (APPs), como matas ciliares e nascentes de rios, dificulta a edificação de grandes projetos que causam prejuízos ao meio ambiente. Portanto, o modelo de integração idealizado nos anos 1970 para a Amazônia já não procede mais, sendo necessário explorar seu potencial econômico e cultural em consonância com a preservação ambiental.