Esses chopes dourados

[...]
quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio
tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes.

WANDERLEY, J. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).

Ao expressar uma percepção de atitudes e valores situados na passagem do tempo, o eu lírico manifesta uma angústia sintetizada na 

  • a

    compreensão da efemeridade das convicções antes vistas como sólidas.

  • b

    consciência das imperfeições aceitas na construção do senso comum.

  • c

    revolta das novas gerações contra modelos tradicionais de educação. 

  • d

    incerteza da expectativa de mudança por parte das futuras gerações.

  • e

    crueldade atribuída à forma de punição praticada pelos mais velhos.

No poema “Esses chopes dourados”, o eu lírico reflete sobre certos valores culturais. Na primeira estrofe, apresenta-se a certeza de que “a geração de cima / só podia educar a de baixo / batendo”. Na segunda, cria-se uma ideia de instabilidade dos valores da geração anterior, uma vez que a geração do eu lírico “ainda não sabia que estava errado” bater, “mas a geração de vocês”, a geração seguinte, “já sabia e cresceu odiando a geração de cima”. Na última estrofe do poema, a conclusão é que “é péssimo ter pertencido à geração do meio”. Essa progressão indica certa angústia, ao compreender que as “convicções antes vistas como sólidas” mostram-se efêmeras.

O gabarito oficial fala que essa angústia é sintetizada na “consciência das imperfeições aceitas na construção do senso comum”. Não se trata de uma análise descabida, mas a angústia, no poema, não é exatamente consciente. Outro problema é o uso do termo “imperfeições”, que apresenta uma conotação negativa exagerada e pode, em última instância, sugerir que pode haver uma maneira educar que seja perfeita – o que é evidentemente uma utopia.

A nosso ver, a angústia nasce mais da efemeridade das convicções do que da consciência de suas presumíveis imperfeições.

Gabarito oficial: B

Gabarito Anglo: A