TEXTO I
BACON, F. Três estudos para um autorretrato. Óleo sobre tela, 37,5 x 31,8 cm (cada), 1974. Disponível em: www.metmuseum.org. Acesso em: 30 maio 2016.
TEXTO II
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece com pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.
DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Na imagem e no texto do romance de Marguerite Duras, os dois autorretratos apontam para o modo de representação da subjetividade moderna. Na pintura e na literatura modernas, o rosto humano deforma-se, destrói-se ou fragmenta-se em razão
Ao longo do século XX, a pintura e a literatura modernas recebem um verdadeiro bombardeio de influências revolucionárias. É possível associar a deformação e a fragmentação dos rostos e retratos presentes tanto na obra de Francis Bacon quanto na de Marguerite Duras, principalmente por duas razões: o impacto catastrófico de eventos como as grandes guerras e revoluções e a descoberta de um complexo universo psíquico interior e subjetivo, a partir, sobretudo, dos trabalhos de Sigmund Freud. São os rostos dilacerados e contorcidos dessas obras verdadeiros espelhos da alma abalada, típica da modernidade.