a) A imagem apresenta figuras reconhecíveis: no lado esquerdo, árvores, pássaros, uma onça; no lado direito, um boi. Os elementos apresentados à esquerda são parte de um todo que vem a ser o meio ambiente preservado. Nesse sentido, representam justamente a natureza intocada. A figura do boi também funciona de modo semelhante: por ser parte de um todo que vem a ser a boiada, representa a atividade pecuária. Como o bovino, em sua pastagem, alimenta-se de um dos elementos da natureza preservada (uma árvore), a charge sugere a ideia de que a pecuária “devora” o meio ambiente natural, isto é, atua como agente da devastação. São conhecidos os efeitos nocivos da pecuária predatória: a criação de pastos envolve o desmatamento, seguido da queima do material orgânico restante, o que acaba produzindo a alta emissão de poluentes atmosféricos – fatores decisivos para o estabelecimento da “crise climática” mencionada pela charge.
b) É possível apontar mais de duas figuras de linguagem presentes na construção da imagem do bovino.
A hipérbole (exagero expressivo) se manifesta na dimensão desproporcional do animal, em relação aos demais elementos da imagem. Seu aspecto aumentativo sugere a superioridade da atividade que representa, em relação aos demais elementos (árvores e animais), apresentados de maneira diminuta.
A metonímia/sinédoque se manifesta pela substituição do todo (a atividade pecuária) pela parte (o boi). Esse recurso permite a representação de um aspecto complexo (a pecuária) por meio de uma imagem simples, econômica, o que viabiliza a crítica sugerida pela charge.
A antítese também se apresenta como recurso para a construção da imagem do bovino, dada a relação de oposição que a figura estabelece com a floresta. A antítese, nesse caso, contribui para a clareza do discurso crítico, definindo, com nitidez, os elementos envolvidos no contexto da devastação ambiental desencadeada pela pecuária (natureza preservada x atividade pecuária predatória).
A metáfora também pode ser indicada como um recurso expressivo empregado na construção da figura do bovino: seu ato de devorar uma árvore não deve ser entendido como uma expressão literal, mas representa todo o processo de devastação ambiental realizado pela criação extensiva de gado. Também nesse caso, a figura de linguagem empregada contribui para a economia de meios do discurso, indicando, de maneira simples, um processo dotado de complexidade.
