a) Sebastião Salgado entende a fotografia como a “memória da sociedade” porque ela funciona como um registro permanente e fidedigno de um momento específico da realidade. Segundo o fotógrafo, o ato de fotografar consiste em realizar um “corte representativo do planeta naquele momento”, capturando uma cena que é única e irrepetível. Para que uma imagem seja considerada fotografia, na concepção de Salgado, é imprescindível que ela tenha a “realidade em frente”, ou seja, que documente um acontecimento verídico. A fotografia “Serra Pelada” é um exemplo emblemático dessa visão, pois ela não apenas registra, mas eterniza a escala monumental e a condição humana no garimpo durante a década de 1980. Ao preservar essa cena histórica, a imagem transcende o mero registro visual e se converte em um documento, um testemunho que permite às gerações futuras conhecer e refletir sobre aquele período. Dessa forma, a fotografia se torna um pilar da memória coletiva, guardando fragmentos da história e da experiência humana para a posteridade, em contraste com a efemeridade das imagens digitais cotidianas que, segundo ele, não possuem a mesma vocação para a permanência.
b) No contexto da entrevista, Sebastião Salgado utiliza a palavra “artistismo” para descrever a criação de imagens que não estão diretamente ancoradas na captura de um momento real e preexistente. O “artistismo” se refere a uma produção visual que, embora possa ter valor estético, carece do compromisso documental que define a essência da fotografia. Ele estabelece uma distinção clara: a fotografia nasce da realidade que se apresenta diante da câmera, enquanto o “artistismo” corresponde a imagens que são “criadas”, “imaginadas” ou “transformadas”, como as que podem ser geradas por inteligência artificial. Para Salgado, essas criações são “outra coisa”, uma forma de expressão artística ou uma “linguagem de comunicação por imagem”, mas não se qualificam como fotografia, pois não cumprem a função de serem um registro fiel e um corte direto do real. Portanto, “artistismo” assume um significado pejorativo no discurso do fotógrafo, designando uma prática que se afasta do propósito fundamental da fotografia: ser a memória da sociedade.
