a) A descoberta da América, inserida no contexto das Grandes Navegações, resultou de mudanças nas mentalidades ocorridas ao final da Idade Média, quando o uso da razão se tornou determinante, com a valorização da medição, da previsão e do cálculo. Instrumentos como o astrolábio e a bússola, aliados ao desenvolvimento da cartografia e das cartas náuticas, permitiram o planejamento racional das rotas marítimas. Assim, os mares deixaram de ser vistos como espaços míticos e imprevisíveis e passaram a ser ordenados por mapas, números e leis naturais em consonância com o chamado paradigma galileico.
b) Podemos citar como realizações desse homem a expansão marítima e colonial europeia, que permitiu a dominação territorial em América e em partes da África e Ásia, o controle de rotas oceânicas, o acesso europeu a mercados da Ásia sem intermediação árabe, o desenvolvimento de relações comerciais no espaço Atlântico, bem como a imposição cultural e religiosa sobre os povos colonizados, por meio da evangelização cristã e da disseminação dos valores europeus.
c) É possível interpretar que, entre os séculos XV e XVI, a ascensão de uma mentalidade crescentemente racionalista na civilização euro-ocidental coexistiu com visões de mundo fortemente marcada por misticismos, crenças da interferência metafísica no cotidiano e por expressões da religiosidade católica como um todo. Esses dois campos não foram excludentes um ao outro.
Dessa forma, nos mesmos séculos em que se recorria a minuciosos cálculos para o aprimoramento da cartografia, dos instrumentos de navegação, das embarcações (assim como nas próprias análises sobre os corpos celestes), houve também a persistência de representações do fantástico, assentadas em subjetividades populares (nutridas por fantasmagorias e também pelos ideais religiosos medievais presentes, por exemplo, na dramaturgia de Gil Vicente) e em narrativas mágicas disseminadas pelos navegadores (em seus relatos sobre monstros marinhos e nas inúmeras aventuras do tenebroso e desconhecido oceano).
