Para responder à questão, leia o poema “A avó”, do poeta parnasiano Raimundo Correia.

Este infante1 de olhar e faces inocentes
Me repele, e por que, quando me achego dele?
Quando com as mãos sem força, engelhadas2, trementes,
O afago, por que chora e por que me repele?!

A velhice tornou meu semblante tão feio,
Que às crianças que beijo, ameigo3 e acaricio
Já não inspiro amor, só inspiro receio?!

Meu riso é hoje acaso um momo4 tão sombrio,
Que este infante que embalo, este que de mim veio,
Que é meu neto, este até, chora quando me rio?!

E como ele, contudo, eu sou fraca, e, como ele,
Eu não tenho também nem cabelos, nem dentes…
Ai! quando o vou beijar, por que é que me repele
Este infante de olhar e faces inocentes?!

(Raimundo Correia. Poesia completa e prosa, 1961.)

1infante: criança.
2engelhado: enrugado.
3ameigar: afagar.
4momo: careta.

a) Que característica aproxima esse poema das antigas cantigas medievais de amigo? Que adjetivo empregado pelo eu lírico torna explícita essa característica?

b) Expressão expletiva é aquela que não exerce nenhuma função sintática na frase. Cite a expressão expletiva que ocorre na última estrofe do poema. Que função ela desempenha no respectivo verso?

a) A característica que aproxima esse poema das cantigas de amigo é a presença de um eu lírico feminino que sofre e anseia pelo afeto de uma figura masculina.

O adjetivo é “fraca”. Ele reforça a ideia de que se trata de um eu lírico feminino e também mostra a condição desvantajosa da mulher, embora por motivos diferentes. Nas cantigas medievais de amigo, o adjetivo retrata a condição da mulher numa sociedade em que os homens prevaleciam; no poema, a condição de idosa.

b) Trata-se da expressão expletiva “é que”.

A sua função é a de destacar o termo que o antecede. No caso, a locução interrogativa de causa “por que”. Com isso, se enfatiza ainda mais a pergunta que percorre todo o poema: o motivo da repulsa do infante.