Para responder à questão, leia o poema “A avó”, do poeta parnasiano Raimundo Correia.
Este infante1 de olhar e faces inocentes
Me repele, e por que, quando me achego dele?
Quando com as mãos sem força, engelhadas2, trementes,
O afago, por que chora e por que me repele?!
A velhice tornou meu semblante tão feio,
Que às crianças que beijo, ameigo3 e acaricio
Já não inspiro amor, só inspiro receio?!
Meu riso é hoje acaso um momo4 tão sombrio,
Que este infante que embalo, este que de mim veio,
Que é meu neto, este até, chora quando me rio?!
E como ele, contudo, eu sou fraca, e, como ele,
Eu não tenho também nem cabelos, nem dentes…
Ai! quando o vou beijar, por que é que me repele
Este infante de olhar e faces inocentes?!
(Raimundo Correia. Poesia completa e prosa, 1961.)
1infante: criança.
2engelhado: enrugado.
3ameigar: afagar.
4momo: careta.
a) Do ponto de vista formal, em que medida se pode dizer que o poema apresenta uma estrutura circular? Fundamente sua resposta com um ou mais versos do poema.
b) Transcreva os verbos das duas orações temporais que constam da primeira estrofe do poema.
a) O poema termina como começou, com a indagação do porquê da repulsa do infante aos gestos de carinho da avó, caracterizando a circularidade. Formalmente isso é expresso pela igualdade do primeiro verso com o último, e pela semelhança do segundo com o penúltimo.
Este infante de olhar e faces inocentes
Me repele, e por que, quando me achego dele?
Ai! quando o vou beijar, por que é que me repele
Este infante de olhar e faces inocentes?!
b) São os verbos “achego” e “afago”.