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I. Macunaíma

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.

Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:

— Ai! que preguiça!. . .

e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacororô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.

Mário de Andrade, Macunaíma.

Nessa abertura de Macunaíma, combinam-se, principalmente, dois diferentes “estilos” de narrar, ou seja, um estilo

  • a

    .de lenda, mais solene, e um estilo de crônica, despachado e coloquial.

  • b

    dramático, com foco nos conflitos, e um estilo jornalístico, conciso.

  • c

    sentimental, introspectivo, e um estilo paródico.

  • d

    realista, mais rente aos fatos, e um estilo fantasioso, delirante.

  • e

    distanciado, de cunho crítico, e um estilo dissertativo, argumentador.

O texto de abertura de Macunaíma mescla uma linguagem mais elevada e solene, típica da tradição oral e das lendas indígenas, com trechos coloquiais, cômicos e irônicos, marcados por expressões como “ai! que preguiça!”, além de descrições prosaicas e popularescas. Isso caracteriza a convivência entre o estilo de lenda e o de crônica.