Leia o soneto “Luva abandonada”, de Alberto de Oliveira, para responder à questão.
Uma só vez calçar-vos me foi dado,
Dedos claros! A escura sorte minha,
O meu destino, como um vento irado,
Levou-vos longe e me deixou sozinha!
Sobre este cofre, desta cama ao lado,
Murcho, como uma flor, triste e mesquinha,
Bebendo ávida o cheiro delicado
Que aquela mão de dedos claros tinha.
Cálix1 que a alma de um lírio teve um dia
Em si guardada, antes que ao chão pendesse,
Breve me hei de esfazer2 em poeira, em nada...
Oh! em que chaga viva tocaria
Quem nesta vida compreender pudesse
A saudade da luva abandonada!
(www.nilc.icmc.usp.br)
1cálix: invólucro externo de uma flor; cálice.
2esfazer: desfazer.
O recurso expressivo que constitui o elemento estruturante do soneto é
A enunciação do poema é atribuída à própria “luva abandonada” do título, o que evidencia o uso do recurso da personificação, por intermédio do qual se atribuem vida, atitudes e sentimentos humanos a seres inanimados. Nos versos, a luva lamenta o esquecimento a que foi relegada, após o uso limitado que fez dela a dona dos “dedos claros” aos quais ela se dirige.