Curta brasileiro “Amarela” concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes

O curta-metragem “Amarela”, escrito e dirigido pelo nipo-brasileiro André Hayato Saito, passa-se em São Paulo e é estabelecido durante a final da Copa do Mundo de 1998, entre Brasil e França. A protagonista é Erika Oguihara (Melissa Uehara), uma adolescente nipo-brasileira que rejeita as tradições de sua família japonesa. A luta contra o sentimento de não pertencimento se aflora quando é confrontada por uma violência despercebida pela maioria. “Eu costumo falar sobre a questão de ser japonês demais para ser brasileiro e brasileiro demais para ser japonês. Sofri muito bullying sendo afirmado como ‘japinha’, ‘samurai’, ‘ninja’; e me sentia só, não me sentia visto”, diz Saito. “Receber essas tarjas é ignorar a história e a individualidade de cada um. O famoso ‘japonês é tudo igual’ é imensamente ofensivo e esses traumas reverberam até hoje. O filme vem para trazer essas questões identitárias que tanto fervilham dentro de mim e dentro de milhões de filhos de diásporas globais, para uma reflexão mais ampla”, comenta o diretor.

(https://bravo.abril.com.br, 14.05.2024. Adaptado.)

a) Apresente o interesse econômico do Brasil pela migração japonesa no século XX e cite uma contribuição cultural dos imigrantes japoneses à sociedade brasileira.

b) Defina “diáspora” e explique como ela pode se relacionar com episódios de xenofobia, como os relatados no excerto.

a) Diante do contexto do Brasil no final do século XIX com a abolição da escravidão, torna-se ainda mais urgente, dentro do aspecto econômico, a necessidade de suprir a demanda por mão de obra, principalmente no campo, para a cafeicultura. É nesse período que as relações diplomáticas são estabelecidas entre Brasil e Japão com o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação de 1895, em um contexto de abertura e modernização do Japão, o que se consolida no início na imigração japonesa em 1908.

Atualmente, o Brasil abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão, gerando impactos culturais significativos, como nas artes, com a artista Tomie Ohtake, que conta com seu instituto em São Paulo; nos esportes, com a difusão das práticas de judô e karatê, populares hoje no Brasil; na gastronomia, que conta com elementos mistos das duas culturas e com grande número de unidades de restaurantes; historicamente essa relação entre os países também ganha espaço com o Museu da Imigração Japonesa, também em São Paulo.

b) Diáspora refere-se ao movimento imigratório em massa de determinado grupo, que se dá por diversos fatores de dispersão, como escassez de recursos naturais, crises ambientais, conflitos armados, entre outros. Por se tratar de um grupo étnico e culturalmente distinto, tentando integrar-se a outros territórios e em grande volume, o choque cultural, que por vezes pode ser enfrentado como uma ameaça para a população local, comumente leva à xenofobia, como forma de aversão ao que é estrangeiro e de resistência à integração dessa nova cultura às culturas preexistentes.