Você é diretor/a de uma escola pública e, ao circular pelos corredores dela, no intervalo entre as aulas, notou que os/as alunos/as do Ensino Fundamental estavam usando o celular para apostar dinheiro em um jogo de azar. Preocupado/a com a situação, você decidiu escrever um comunicado a ser enviado aos responsáveis por esses/as alunos/as, expressando as preocupações da instituição com esse novo hábito de crianças e pré-adolescentes. Em seu texto, você: a) explica de que forma essas apostas por celular podem prejudicar o comportamento dos alunos na escola; e b) alerta sobre os principais perigos a que crianças e pré-adolescentes estão sujeitos ao se envolverem com as bets. Você deve, obrigatoriamente, apropriar-se de elementos da coletânea a seguir, demonstrando leitura crítica dela na elaboração de seu próprio texto.

Glossário:
Bets:
o termo “bet” é a palavra em inglês para “aposta”. No contexto de jogos de azar, a palavra bets se refere a qualquer tipo de aposta feita em eventos cujo resultado é incerto, como partidas esportivas ou jogos de cassino. A palavra tem sido amplamente adotada por diversas plataformas de apostas online. (Adaptado de LEITES, Raphael. “O que são bets?”. Estadão – E-investidor. 01/10/2024.)

1. Um universo cheio de tigrinhos, aviõezinhos, moedas de ouro e craques do futebol. O que parece fascinante é perigoso e não tem poupado crianças e adolescentes, público que cresce à medida que os algoritmos das redes sociais insistem em disseminar propagandas de jogos de azar, apostas online e bets. Além de jogar, influenciadores com idade entre seis e 17 anos estão sendo recrutados por casas de apostas virtuais para fazer publicidade daquilo que sequer deveriam acessar, mostrou investigação do Instituto Alana. Atraído por jogadores e locutores famosos, o estudante L., de 13 anos, decidiu se arriscar como técnico de futebol e usou escondido o cartão de crédito da avó para bancar suas apostas. Chegou a gastar R$30 mil. Perdeu tudo. Ivelise Fortim, professora de psicologia e de tecnologia em jogos digitais da PUC-SP, explicou que “jogos de apostas são proibidos para crianças e menores de idade porque eles têm maior impulsividade e dificuldade de controle, sem a maturidade necessária para tomar decisões sobre o risco financeiro envolvido. Entre as consequências mais graves para esse público, estão a depressão e o suicídio.”

(Adaptado de BITTENCOURT, Carla. “Apostas online atraem crianças e adolescentes, apesar de ilegais”. Portal Lunetas, 26/06/2024.)

2.

3.

4. As bets estão em processo de regulamentação no Brasil. Atualmente, só podem funcionar as empresas de apostas autorizadas pelo governo. Os demais sites devem ser bloqueados. A advogada Monique Guzzo, das áreas de Direito Público e Regulatório, explica que, antes da lei das bets (Lei 14.790/23), as apostas de quota-fixa estavam legalmente permitidas desde 2018, mas não havia um sistema de controle de entrada, fiscalização ou tributação. “Isso permitia que empresas estrangeiras operassem no Brasil sem um retorno significativo de impostos ao governo.” Além disso, não existia um órgão específico para regulamentar e fiscalizar essas empresas, o que dificultava o controle sobre a prática. Com a nova lei das bets, foram introduzidos requisitos e diretrizes para tal regulamentação.

(Adaptado de “Regulamentação das bets: o que pode e o que não pode? Entenda.” Portal Migalhas, 03/10/2014.)

5. No interior de São Paulo, a enfermeira Gabriely Sabino foi finalmente encontrada, após passar uma semana desaparecida. Ela assumiu à imprensa ter fugido após contrair dívidas ao investir no “Jogo do Tigrinho”, uma espécie de caça-níqueis online. Em Alagoas, dois influenciadores digitais foram presos, suspeitos de divulgar ganhos falsos e atrair jogadores para o mesmo game de apostas. No Maranhão, a polícia investigou suicídios que teriam ocorrido após usuários perderem grandes quantias na plataforma. O “Jogo do Tigrinho” chama apostadores com uma forte promessa de ganhos rápidos e fáceis. Para o psiquiatra Rodrigo Machado, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, o ciclo vicioso causado pelo jogo precisa também ser visto sob uma ótica de saúde pública. “A gente fica dependente não só de substâncias químicas, mas também de comportamentos altamente sedutores para o cérebro, como o transtorno do jogo. No Brasil, o vício em apostas é identificado como doença pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), nas categorias mania de jogo e jogo patológico.

(Adaptado de QUEIROZ, Gustavo. “Jogo do Tigrinho: os perigos de se viciar em games de aposta”. Brasil de Fato, 01/07/2024.)

Você deverá escolher apenas UMA das propostas para desenvolver. Não se esqueça de marcar a proposta escolhida na folha de resposta reservada para a Redação.

A Proposta 2 de redação desta edição do vestibular da Unicamp requisitou a elaboração de um comunicado de um(a) diretor(a) de escola pública que se depara com a situação de flagrar alunos do Ensino Fundamental II fazendo apostas em dinheiro em jogos de azar, por meio do celular, durante o intervalo das aulas. Tendo isso em vista, o candidato deveria assumir a voz da direção escolar e escrever aos responsáveis dos estudantes explicando como essas apostas podem prejudicar o comportamento deles na escola e alertando os principais perigos a que crianças e pré-adolescentes estão sujeitos ao se envolverem com as chamadas "bets". Trata-se, portanto, de uma proposta de redação alinhada com o que a banca vem mostrando ao longo dos anos: uma produção textual em situação concreta, com tema de relevância social e atual.

Na situação proposta, o candidato assume a voz de um importante membro da comunidade escolar e deve escrever aos responsáveis informando as consequências graves do problema apresentado tanto dentro dos muros da unidade escolar quanto na vida dos estudantes.

O glossário traz a definição da palavra "bet", termo que tornou-se amplamente conhecido na sociedade brasileira em todas as faixas etárias. A coletânea textual - fundamental na proposta da Unicamp - é composta de reportagens, uma charge e dados que o candidato deve utilizar para direcionar sua produção textual.

O Texto 1 é um trecho de reportagem que apresenta a popularidade dos jogos de azar nas redes sociais dentro da faixa etária de crianças e adolescentes que, apesar da proibição legal, chegam até mesmo a fazer propagandas em favor das casas de apostas on-line. Além disso, o texto relata o caso de um adolescente que, ao jogar escondido, perdeu grande soma de dinheiro da família. Há, ainda, uma explicação de Ivelise Fortim, professora de psicologia e de tecnologia em jogos digitais da PUC-SP, dos motivos da proibição legal dos jogos de azar para menores de idade. O Texto 2 traz os dados sociais de escolaridade e renda familiar dos apostadores: a maioria tem menor formação escolar e também baixa renda familiar. O Texto 3 é uma charge que remete à obra "Alice no País das Maravilhas" trazendo um gato convidando uma criança para apostar. O Texto 4 é mais uma reportagem e tem como tema a regulamentação das "bets" no Brasil e um breve histórico desse processo. O Texto 5 é, novamente, uma reportagem e também relata o caso de uma mulher que teve a vida severamente prejudicada após perder muito dinheiro em apostas on-line e conta com a fala de um psiquiatra que aponta para o risco do vício que as apostas têm e que isso é considerado uma doença.

A fim de abordar o critério "a", o candidato pode utilizar o Texto 1 para chamar a atenção dos responsáveis para o fato de que há crianças jogando através dos smartphones sem o conhecimento da família e perdendo grandes quantias de dinheiro, além do grave risco de desenvolver depressão e comportamentos perigosos à própria vida. Também aponta que pessoas famosas na internet e bastante conhecidas do público infantil e jovem fazem propagandas das casas de apostas. A charge do Texto 3 é relevante para mostrar que as crianças são constantemente assediadas com convites para apostar e que são usados elementos lúdicos para cativá-las.

Para cumprir o critério “b”, o candidato pode adotar os dados do Texto 2, como a grande quantidade de jogadores com menos escolarização. O Texto 5 é fundamental para expor o mecanismo que leva as pessoas a apostarem e a ficarem viciadas nos jogos de apostas on-line, mesmo que não sejam substâncias químicas (vício mais conhecido e reconhecido socialmente), e a gravidade do que pode acontecer quando um usuário se perde nesse vício, sendo que há suicídios sendo investigados que podem ter como motivação essas perdas.

Sendo um comunicado escolar, era necessário utilizar uma linguagem formal, mas evitar a prolixidade, pois o texto precisa ter uma mensagem bem direcionada aos pais com as informações relevantes aos dois critérios. Também era possível utilizar repertório próprio, desde que pertinente ao tema.