“Aconteceu num debate, num país europeu. Da assistência alguém me lançou a seguinte pergunta:
- Para si, o que é ser africano?
Falava-se, inevitavelmente, de identidade versus globalização. Respondi com uma pergunta:
- E para si, o que é ser europeu?
O homem gaguejou. Não sabia responder. Mas o interessante é que, para ele, a questão da identidade se colocava naturalmente para os africanos. Não para os europeus. Ele nunca tinha colocado a questão no espelho.
Recordo o episódio porque me parece que ele toca uma questão central: quando se fala de África, de qual África estamos falando? Terá o continente africano uma essência facilmente capturável? Haverá uma substância exótica que os caçadores de identidades possam recolher como sendo a alma africana?”
COUTO, Mia. “Um retrato sem moldura”. In: HERNANDEZ, Leila Leite. A
África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo
Negro, 2008. p.11.
Ao relatar e comentar o episódio, o escritor moçambicano Mia Couto apresenta a África como
O excerto descreve um diálogo envolvendo o autor Mia Couto e outro interlocutor, provavelmente europeu, em algum lugar deste continente, acerca da questão sobre a identidade africana. O autor termina com uma série de questionamentos reflexivos, sobre as dificuldades de buscar essa identidade. A partir da leitura, podemos concluir que essa dificuldade estaria associada aos obstáculos para construir uma identidade em um continente específico, nesse caso, na África.
COMENTÁRIO: Cabe ressaltar que a alternativa considerada correta traz informações que não estão presentes diretamente no texto, ou seja, o candidato deveria inferir as ideias de “mosaico composto por relações econômicas, políticas e culturais instáveis”, apresentada na alternativa E, a partir das perguntas propostas pelo autor.