Leia os trechos das obras Marília de Dirceu e Romanceiro da Inconfidência:
Lira VII (Parte II)
“Meu prezado Glauceste,
Se fazes o conceito
Que, bem que réu, abrigo
A cândida Virtude no meu peito;
Se julgas, digo, que mereço ainda
Da tua mão socorro;
Ah! Vem dar-mo agora,
Agora, sim, que morro!
Não quero que, montado
No Pégaso fogoso,
Venhas com dura lança
Ao monstro infame traspassar, raivoso.
Deixa que viva a pérfida calúnia,
E forje o meu tormento:
Com menos, meu Glauceste,
Com menos me contento.”
Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu.
Romance LXVI ou De Outros Maldizentes
“- Que fica, na fortaleza,
daquele poeta Gonzaga?
- Um par de esporas, somente.
Um par de esporas de prata.
(...)
Dizem que tinha um cavalo
que Pégaso se chamava.
Não pisava neste mundo,
mas nos planaltos da Arcádia!”
Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência.
Considerando o substantivo Pégaso, presente nos dois excertos, é correto afirmar:
Na lira da obra Marília de Dirceu, a referência a Pégaso está relacionada à construção de uma determinada imagem heroica de caráter épico, a qual Glauceste poderia se associar, mas que é negada pelo próprio Dirceu, que busca no amigo um tipo de amparo menos grandioso. Já no Romanceiro da Inconfidência, o substantivo Pégaso é usado pelos “Maldizentes” (que são os enunciadores do poema) para ironizar o pouco apego dos poetas árcades à realidade. Segundo aqueles maledicentes, as “esporas de prata”, presentes no espólio de Gonzaga, seriam de um cavalo irreal, habitante de um mundo imaginado por um poeta desligado da realidade vivenciada pelos outros habitantes do império português.