Mais de uma vez, o brasileiro Machado de Assis e o português Eça de Queirós foram aproximados porque traçaram linhas de compreensão das suas respectivas sociedades, em um mesmo tempo historicamente situado. Os protagonistas Rubião, de Quincas Borba (1891), e Gonçalo, de A Ilustre Casa de Ramires (1900),
Rubião, protagonista de Quincas Borba, publicado em 1891, é uma representação criada por Machado de Assis para o súbito enriquecimento da nação brasileira em função da exportação de café. O romance como um todo explora as consequências desse processo - como a ascensão política da burguesia brasileira - por meio de personagens como Cristiano Palha e Sofia. Gonçalo Mendes Ramires, protagonista de A ilustre casa de Ramires, por sua vez, é um proprietário rural, herdeiro empobrecido da aristocracia portuguesa e que vive da valorização de glórias pregressas de sua família, o que revela a decadência dessa classe em Portugal no final do século XIX.
Na alternativa “D”, apontada no gabarito oficial, é difícil aceitar a afirmação segundo a qual os protagonistas dos romances estejam comprometidos “com a superação dos atrasos civilizacionais de seus países”, na medida em que ambos representam justamente a porção retrógrada de suas respectivas sociedades. Por essa razão, não se pode dizer que ambos lutem contra “o descompromisso de suas respectivas sociedades”. Rubião e Gonçalo figuram as visões críticas que as narrativas apontam em parcela das elites do Brasil e do Portugal, vistas como atrasadas e incapazes de responder às transformações sociais e econômicas do tempo.