“Madala pensou que devia dizer qualquer coisa ao Djimo, mas não se lembrou de repetir a pergunta para si mesmo e por isso não soube o que dizer.
O capataz fazia sinais à Maria, mas esta parecia não entender.
A planta que Madala segurava na mão oferecia ao seu esforço uma resistência exagerada. Por isso, o punho de Madala tremia.
(...)
O tom da voz de Djimo revelava certo nervosismo:
- Madala...
Mas o nervosismo desapareceu logo. Djimo deu uma ordem:
- Madala, não olhes para lá!
Dentro de Madala, qualquer coisa se crispou. Mas não eram os fios da sua doença.”
Luís Bernardo Honwana. “Dina”. In: Nós matamos o cão tinhoso!.
Considerando o papel da antologia Nós matamos o cão tinhoso! na literatura moçambicana e como a sociedade de Moçambique dos anos 1950 e 1960 se configura literariamente no conto “Dina”, é correto afirmar:
No conto Dina, parte da antologia Nós Matamos o cão tinhoso!, vemos que o capataz personifica diferentes formas de violência características do colonialismo, voltadas para os corpos de homens e mulheres. Além da opressão que exerce sobre os trabalhadores da machamba, ele investe sexualmente contra Maria, filha de Madala, idoso respeitado dentro do grupo. Ao tomar conhecimento do parentesco entre a jovem e Madala, o capataz balbucia algumas desculpas, mas mantém sua atitude agressiva com esses trabalhadores rurais, que continuarão submetidos a um regime de trabalho cruel e estafante.