Texto 1
“Afinal, depois de ver todas as coisas daquele museu, acabei me perguntando se os brancos já não teriam começado a adquirir também tantas de nossas coisas só porque nós, Yanomami, já estamos começando também a desaparecer. Por que ficam nos pedindo nossos cestos, nossos arcos e nossos adornos de penas, enquanto garimpeiros e fazendeiros invadem nossa terra?”
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. Queda do céu: palavras de um xamã
yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p.429.
Texto 2
“Em seu trabalho, Glicéria debruça-se sobre a artesania do manto tupinambá, símbolo das tradições ancestrais de seu povo. A artista chama de cosmo-técnica a feitura do manto, e hoje busca compreender qual era sua função cultural e social em sua comunidade. Recentemente, a artista esteve na Europa e encontrou mantos datados do século XVII, que foram levados do Brasil ao longo da colonização, na Dinamarca. Segundo Glicéria, ‘hoje, as pessoas entendem o manto como arte, arte contemporânea, mas eu vejo muito além. É um ancestral nosso’.”
Instituto Pipa. Ocupação dos artistas premiados do Pipa 2023: Glicéria
Tupinambá. Disponível em: https://www.premiopipa.com/2023/10/
(Adaptado).
A reflexão de Davi Kopenawa sobre a apropriação de objetos indígenas por museus e a pesquisa de Glicéria Tupinambá sobre o manto tupinambá em contextos europeus permitem explorar diversas dimensões da arte indígena.
Com base nos textos e na imagem, assinale a alternativa que relaciona corretamente as reflexões apresentadas à importância da arte e dos artefatos culturais na discussão sobre questões indígenas no Brasil.
A circulação global de artefatos produzidos pelos povos originários do território brasileiro é debatida pelo líder yanomami Davi Kopenawa, pelo antropólogo francês Albert Bruce e pela artista e educadora Glicéria Tupinambá.
Em suas produções acadêmicas e artísticas, questiona-se a forma como a colonização europeia sobre a América teve como um de seus resultados a apropriação indevida de artefatos indígenas e sua incorporação em instituições museológicas europeias.
Também é problematizado o fato de que tais objetos não deveriam ser interpretados meramente como obra de arte (ou seja, confinados a apreciações subjetivas que ocorram posteriormente a uma contemplação estética). No caso do manto, trata-se de um artefato cultural originalmente destinado a rituais celebrativos da ancestralidade e religiosidade indígenas.
Dessa forma, expressões artísticas que valorizem culturas indígenas (como é o caso de Glicéria Tupinambá) podem ser interpretadas, simultaneamente, como a afirmação da importância dessas culturas e como uma forma de resistência ao histórico silenciamento imposto sobre elas.