A alma funciona no meu corpo de maneira maravilhosa. Nele se aloja, certamente, mas sabe bem dele escapar: escapa para ver as coisas através da janela dos meus olhos, escapa para sonhar quando durmo, para sobreviver quando morro. Minha alma durará muito tempo e mais que muito tempo, quando meu corpo vier a apodrecer. Viva minha alma! É meu corpo luminoso, purificado, virtuoso, ágil, móvel, tépido, viçoso; é meu corpo liso, castrado, arredondado como uma bolha de sabão.
FOUCAULT, M. O corpo utópico, as heterotopias.
São Paulo: Edições N-1, 2013.
Esse texto reforça uma concepção metafísica clássica que remete a um(a)
No texto, o filósofo francês Michel Foucault chama a atenção para a dicotomia entre corpo e alma. Tal separação remonta à tradição da metafísica clássica – que se consagrou entre filósofos antigos e medievais, como Platão e Agostinho –, na qual se buscava a essência e a verdade da condição humana em formas transcendentais, isto é, fora das formas sensíveis da realidade.