Texto 1
Texto 2
Um recente relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) revela uma probabilidade de 80% de que a temperatura média global anual exceda temporariamente em 1,5 ºC os níveis de temperatura pré-industriais durante pelo menos um dos próximos cinco anos. Essa probabilidade era próxima de zero em 2015, quando foi firmado o Acordo de Paris, mas tem aumentado constantemente desde então, em um claro sinal de que o mundo não está conseguindo agir com a rapidez e a eficácia necessárias para combater a crise climática.
(www.wwf.org.br, 05.06.2024. Adaptado.)
Texto 3
Diante de eventos climáticos extremos, como as ondas de calor recentes e as enchentes que vitimizaram milhares de famílias no Rio Grande do Sul, um novo termo busca caracterizar as angústias relacionadas ao meio ambiente: a ecoansiedade. Sinônimo de “ansiedade climática”, o termo já foi incorporado pelo dicionário Oxford e é definido pela Associação Americana de Psicologia como “medo crônico de catástrofes ambientais”.
Um estudo publicado em 2021 na revista científica The Lancet Planet Health, realizado com mais de 10 mil crianças e jovens (entre 16 e 25 anos) de dez países, incluindo o Brasil, mostrou que a preocupação com as alterações climáticas era comum entre os entrevistados.
De acordo com a pesquisa, 59% se diziam muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas; e 89% estavam, pelo menos, moderadamente preocupados. Mais da metade dos entrevistados relataram as seguintes preocupações: tristeza, ansiedade, raiva, impotência e culpa. Por fim, cerca de 45% dos entrevistados disseram que os seus sentimentos sobre as alterações climáticas afetaram negativamente a sua vida diária.
“Há uma necessidade urgente de mais investigação sobre o impacto emocional das alterações climáticas nas crianças e nos jovens e de que os governos validem a angústia desses grupos, tomando medidas urgentes sobre as alterações climáticas”, escreveram os autores da pesquisa.
(Gabriela Maraccini. www.cnnbrasil.com.br, 13.05.2024. Adaptado.)
Texto 4
Um estudo publicado no periódico Journal of Environmental Psychology, divulgado em 2022, mostrou que a ansiedade climática se tornou um fenômeno global. Contudo, segundo os resultados encontrados, a ecoansiedade pode estar relacionada a um comportamento positivo em relação ao meio ambiente. Os participantes do estudo indicaram agir de forma consciente para preservar a natureza, como economizar energia em casa, usar transporte público e evitar o desperdício de alimentos.
Em 12 dos 32 países analisados, essas pessoas também tendem a participar de protestos pelo clima. A maioria dos países em que foi observada uma ligação significativa entre a ansiedade climática e o ativismo ambiental era europeu, democrático e relativamente rico.
O fenômeno pode ser relacionado ao movimento que teve início com Greta Thunberg, a ativista sueca que ficou conhecida por dar início aos protestos pelo clima. Em diversas oportunidades, ela fez vários discursos emocionados e com palavras fortes para expressar a sua preocupação com o futuro dos animais, do meio ambiente e do planeta. A ativista abriu o caminho para que inúmeros jovens começassem a se interessar pelo tema do aquecimento global e, dessa forma, compartilhar a mesma indignação.
(Jennifer Ann Thomas. https://veja.abril.com.br, 19.10.2022. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Ecoansiedade: entre o impacto emocional e o impulso para o ativismo ambiental
A prova de redação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (Santa Casa) ocorre no 2º dia da prova da 2ª fase e, como nos anos anteriores, solicitou aos candidatos que redigissem uma dissertação do tipo argumentativa sobre um tema polarizado e atual na sociedade. A questão abordada neste ano foi: “Ecoansiedade: entre o impacto emocional e o impulso para o ativismo ambiental”.
Para que os candidatos tivessem embasamento suficiente sobre o tema e delimitassem o recorte temático da discussão, a banca forneceu quatro textos de apoio em sua coletânea. O primeiro deles foi uma tirinha de Armandinho que explora, inicialmente, as possibilidades do termo “cobertura” para, em seguida, revelar que trata da cobertura “verde”, sensibilizando o candidato a pensar sobre a necessidade e importância da vegetação para a vida. A tirinha, ao mostrar no último quadro uma paisagem praticamente sem qualquer tom de verde, deixa implícitas temáticas como a exploração da natureza e o desmatamento observadas pelas novas gerações.
O segundo texto, publicado pela WWF (World Wide Fund for Nature), mundialmente reconhecida ONG que trabalha na área da preservação do meio ambiente, traz um dado que possibilita uma leitura transversal da coletânea, pois complementa o texto 1 ao indicar uma consequência da falta de cobertura verde: o aumento da temperatura do planeta. O dado da Organização Meteorológica Mundial (OMM) revela uma probabilidade de 80% de aumento da temperatura global, probabilidade que era próxima de zero em 2015. Dessa maneira, fica mais palpável a necessidade da cobertura verde anteriormente anunciada, pois o texto provoca o candidato a refletir sobre seus efeitos, como a crise climática, e o que ocorreu para que, em um intervalo de nove anos, houvesse o acirramento da exploração da natureza no planeta ao invés de ações rápidas dos indivíduos para brecar esse processo.
O terceiro texto, de autoria de Gabriela Maraccini e publicado no jornal CNN, traz um outro lado dos impactos da exploração ambiental na sociedade: a angústia diante da crise climática, chamada de “ecoansiedade”, ponto central do tema da prova e de um de seus eixos temáticos (o impacto emocional). Por definição, a ecoansiedade significa “ansiedade climática” e, segundo a Associação Americana de Psicologia, é o “medo crônico de catástrofes ambientais”. A coletânea cita um estudo publicado em 2021 na revista científica The Lancet Planet Health, nele, nota-se que crianças e jovens sentem-se preocupados com as mudanças climáticas e experienciam sentimentos como ansiedade, raiva, impotência e culpa diante de catástrofes climáticas, sentimentos esses que chegam a afetar negativamente a sua vida diária. Assim sendo, o texto, mais uma vez, proporciona uma leitura transversal da coletânea, pois, por um lado, dialoga com a tirinha, mostrando a atenção das novas gerações para o que ocorre na atualidade, por outro, os sentimentos conflitantes de que o mundo não tem agido com rapidez para conter os danos ambientais.
Finalizando os textos de apoio, o texto 4, publicado na revista Veja e de autoria de Jennifer Ann Thomas, fornece mais dados a respeito sobre a ecoansiedade, dimensionando sua importância na sociedade contemporânea e debatendo sobre o outro lado dos impactos emocionais: a propulsão a uma ação. Se, de acordo com o texto 3, essa angústia pode levar a sentimentos negativos, o texto 4 abre o debate para pensar na mobilização que essa inquietação pode gerar. Em 12 dos 32 países analisados, conforme dados da coletânea, as pessoas tendem a participar de protestos pelo clima. Além disso, desenvolvem consciência ambiental, levando a mudanças de comportamento, tais quais a preservação da natureza, economia de energia, uso de transporte público e a tentativa de não desperdiçar alimentos. Além disso, essa inquietação pode ser um fator de mobilização política ao engajamento em protestos e ativismo ambiental especialmente entre jovens, a exemplo da mundialmente conhecida ativista sueca Greta Thunberg.
Encaminhamentos possíveis:
Levando em consideração os textos apresentados na coletânea sobre ecoansiedade, é possível identificar dois grandes eixos de discussão: o impacto emocional que as mudanças climáticas têm causado na sociedade e o papel da ecoansiedade como catalisador para o ativismo ambiental. Com base nisso, seria possível adotar os seguintes posicionamentos para a elaboração da redação:
(a) Impacto Emocional e Necessidade de Apoio Psicológico: O reconhecimento da ecoansiedade como um problema de saúde mental que afeta especialmente jovens e crianças, visto que são a geração que, predominantemente, terão que lidar com as maiores consequências ambientais, exigindo que governos e instituições de saúde implementem políticas de apoio psicológico. Isso significa, portanto, que é importante pensar na necessidade de validação da angústia desses grupos e na oferta de suporte adequado para lidar com o medo e a ansiedade que estão relacionados às mudanças climáticas e perspectivas de futuro.
(b) Ecoansiedade como Impulso para o Ativismo: sob essa perspectiva, a ecoansiedade pode ser vista como um propulsor para o ativismo ambiental, levando indivíduos a adotarem comportamentos sustentáveis, a participarem de movimentos sociais em prol de mudanças consistentes no meio ambiente e até a exigirem de governos ações mais efetivas no que tange à preservação ambiental. Nesse sentido, de maneira sintética, seria possível destacar que essa ecoansiedade serve como um estímulo para a adoção de ações concretas, como a promoção da educação ambiental e do engajamento cívico.
(c) Ressalva, levando em consideração tanto o impacto emocional quanto o impulso para o ativismo: Enquanto a ecoansiedade é reconhecida como um fenômeno crescente, é importante ressaltar que sua manifestação e impacto podem variar significativamente entre diferentes grupos sociais e regiões geográficas. Essa variação pode ser atribuída a fatores como acesso à informação, contexto socioeconômico e cultural, e a proximidade com eventos climáticos extremos. Nesse sentido, para a sustentação dessa estratégia argumentativa, poderia ser levado em consideração:
- A diversidade de experiências, visto que nem todos os indivíduos experimentam a ecoansiedade da mesma maneira. Em regiões onde as mudanças climáticas têm impactos mais diretos e visíveis, por exemplo, como em áreas propensas a desastres naturais, a ansiedade pode ser mais intensa. Em contraste, em locais onde esses efeitos são menos perceptíveis, a ecoansiedade pode ser menos prevalente.
- Influência Socioeconômica: Grupos socioeconomicamente vulneráveis podem enfrentar desafios mais imediatos e tangíveis, como a insegurança alimentar e a falta de recursos básicos, o que pode alterar a forma como a ecoansiedade é percebida e priorizada. Para esses grupos, as preocupações ambientais podem ser secundárias em relação às necessidades diárias de sobrevivência. Para essa reflexão, há lastro no texto 4, ao destacar que países europeus, democráticos e relativamente ricos possuem maior participação em movimentos de ativismo ambiental, já que, por possuírem condições de não experienciar tamanha proporção dos desastres, gozam da possibilidade, tempo e disposição para a mobilização.
Dessa forma, as intervenções argumentativas do candidato, caso optasse por essa terceira via, deveriam considerar essas diferenças, evitando argumentações generalizadas que não explicitem nem as necessidades específicas de cada grupo ou um posicionamento bem definido. A inclusão de vozes diversas no debate sobre mudanças climáticas é crucial para garantir que as estratégias adotadas pelos alunos, ao longo da feitura do texto, sejam eficazes e consistentes.
Por fim, ainda que a Vunesp seja uma banca que não torna obrigatória a presença de repertório sociocultural, é sempre bom lembrar da importância que esse tipo de informação tem, já que pode garantir mais senso crítico e consistência argumentativa. Sendo assim, para abordar o tema "Ecoansiedade: entre o impacto emocional e o impulso para o ativismo ambiental" de maneira rica e fundamentada, diversos tipos de repertórios podem ser utilizados:
- Acordo de Paris (2015): Contextualizar o aumento das preocupações climáticas desde a assinatura do acordo e a crescente percepção de que as metas não estão sendo atingidas.
- Movimento Fridays for Future: Iniciado por Greta Thunberg, este movimento global de jovens ativistas pode ser citado como um exemplo de como a ecoansiedade pode levar ao ativismo.
- Relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas): Utilizar dados e previsões sobre as mudanças climáticas para embasar a discussão sobre a urgência do tema.
- Teoria da Responsabilidade, de Hans Jonas: Discutir o papel das sociedades e governos em responder às crises ambientais e suas consequências de maneira a garantir um meio ambiente preservado não só para a sociedade atual mas, especialmente, para as próximas gerações.
- Economia Verde: Discutir como a transição para uma economia sustentável pode mitigar a ecoansiedade através de soluções práticas e inovadoras.
- Agenda 2030: Esse plano de ação global, adotado por todos os Estados-membros das Nações Unidas em setembro de 2015, estabelece 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (as chamadas ODS's), as quais incluem metas específicas para combater as mudanças climáticas. Aqui, poderia ser pensado como a ecoansiedade pode ser um reflexo da percepção de que esses objetivos não estão sendo alcançados com a rapidez necessária, ou, por outro lado, inspirar ativismo e mobilização social, oferecendo um caminho estruturado para mudanças positivas.
- Conferência das Partes (COP): As COPs são momentos de encontros anuais, organizados pela ONU, e reúnem representantes de quase todos os países do mundo para discutir e negociar ações e compromissos relacionados às mudanças climáticas. A última reunião realizada foi a COP28, em Dubai, no final de 2023, e ela reforçou a necessidade de acelerar a implementação do Acordo de Paris, de redução dos gases de efeito estufa, do financiamento ambiental e de adaptação às mudanças climáticas.
Essas são apenas algumas sugestões do que poderia ser pensado para a fundamentação do tema: é sempre bom lembrar que, quando se fala em repertório, o importante é que ele seja pertinente e empregado de maneira produtiva para a construção da argumentação.