Leia o soneto de Manuel Maria Barbosa du Bocage para responder à questão.
Nos campos o vilão1 sem sustos passa,
Inquieto na corte o nobre mora;
O que é ser infeliz aquele ignora,
Este encontra nas pompas a desgraça.
Aquele canta e ri; não se embaraça
Com essas coisas vãs que o mundo adora;
Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora,
Porque não acha bem que o satisfaça.
Aquele dorme em paz no chão deitado,
Este, no ebúrneo2 leito precioso,
Nutre, exaspera velador cuidado3.
Triste! Sai do palácio majestoso:
Se hás-de ser cortesão, mas desgraçado,
Antes ser camponês e venturoso!
(Bocage. Poemas escolhidos, 1974.)
1vilão: camponês.
2ebúrneo: feito de marfim.
3cuidado: preocupação, inquietação.
Além do vocativo que ocorre na segunda estrofe, há no soneto outro vocativo. Esse outro vocativo é isolado pelo seguinte sinal de pontuação:
O termo “triste” é uma interpelação ao nobre, que vive infeliz por pertencer a esse estamento social, daí a escolha do epíteto “triste”. Na sequência, o imperativo “sai” e a locução “hás-de ser” possuem como sujeito o pronome “tu”, que também tem como referente esse nobre.