“Será verdade que só em seu maior infortúnio vemos outros seres humanos como nós mesmos? Será o infortúnio aquilo que os homens possuem em comum? No caso de Hiroshima, trata-se da catástrofe mais concentrada que já se abateu sobre os homens. Numa passagem de seu diário, o médico japonês dr. Hachiya pensa em Pompeia. Mas nem mesmo esta oferece termo de comparação. Sobre Hiroshima se abateu uma catástrofe que foi planejada e executada com a maior precisão por seres humanos. A ‘natureza’ está fora do jogo.”

Elias Canetti. “O diário do Dr. Hachiya, de Hiroshima”. A consciência das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 220-221. Adaptado.

a) Qual a diferença entre a catástrofe de Pompeia e a de Hiroshima?

b) Cite dois motivos que justifiquem a afirmação final sobre Hiroshima.

c) Associe a catástrofe de Hiroshima à Guerra Fria. 

a) A diferença entre as catástrofes é que, enquanto a destruição de Pompeia foi causada pela erupção do vulcão Vesúvio – sendo assim um desastre natural –, em Hiroshima a destruição foi resultado do lançamento de uma bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial, o que faz da catástrofe um ato planejado e executado por seres humanos.

b) A afirmação “A natureza está fora de Jogo” na catástrofe de Hiroshima pode ser justificada pelo papel da tecnologia e da guerra. Em relação à tecnologia, temos um investimento em pesquisa e ciência que nos permitiu dominar de uma nova forma a natureza do átomo; em relação à guerra, essa ciência e essa tecnologia foram aplicadas para o desenvolvimento de uma arma de destruição em massa, que teve seu planejamento e sua execução precisa realizados por seres humanos.

c) A utilização de armas de destruição em massa como as empregadas em Hiroshima e Nagazaki, apesar da vitória contra os países do Eixo e da rendição do Japão em agosto de 1945, elevou as tensões entre Estados Unidos e União Soviética, as duas superpotências vitoriosas na Segunda Guerra Mundial, iniciando a chamada Guerra Fria. Nesse cenário, a posse de armas nucleares e a ameaça de seu uso tornaram-se elementos centrais, influenciando a política internacional e criando uma corrida armamentista que foi uma das características mais marcantes da Guerra Fria.