Texto 1
Em Sevilha, no século XVI, havia um conceito de ordem social calcada nas relações entre os sexos masculino e feminino que eram, ao mesmo tempo, paralelas e assimétricas. Um provérbio comum (“Nem espada quebrada, nem mulher errante”) enfatizava tais relações na justaposição de dois símbolos de desordem: a espada quebrada – simbolizando homens desonrados – e as mulheres errantes – representando a vergonha feminina. A ordem social derivava justamente dessa justaposição que dependia, em primeiro lugar, da honra masculina que, por sua vez, dependia do controle imposto sobre a mulher.
(Adaptado de: PERRY, M. E. Gender and Disorder in Early Modern Seville. Princeton: Princeton University Press, p. 19, 1990.)
Texto 2
O texto 1 e o texto 2 analisam a interdependência dos papéis tradicionais de gênero: o primeiro, na Espanha do século XVI; o segundo, na Argentina dos anos 1960.
a) Identifique pelo menos dois símbolos de controle social presentes nos textos. Explique como eles se relacionam com os ideais de masculinidade e feminilidade de cada período.
b) Segundo os textos 1 e 2, qual é a relação entre os papéis de gênero e os espaços público e privado na Espanha do século XVI e na Argentina dos anos 1960? Justifique.
a) No texto 1, a imagem da espada sugere que a honra masculina é garantida pelo controle (violento) exercido sobre a mulher, que não podia errar, vaguear, andar sem rumo certo. Assim, na Espanha do século XVI, o que envergonharia o homem era a quebra da espada, símbolo da virilidade e da força; o que envergonharia a mulher era a possibilidade de fazer as próprias escolhas, de andar livremente. No texto 2, o controle social se dá pela negação da instrução (“diploma”) à mulher, o que acarreta sua exclusão do mundo do trabalho, o qual se torna exclusivo dos homens, como mostra o terceiro quadrinho, e impossibilita a autonomia feminina.
b) Apesar de separados por cerca de 400 anos, ambos os textos limitam a mulher ao espaço privado, atribuindo ao homem a responsabilidade de atuar no espaço público. Assim, na Espanha do século XVI, a errância é atrelada ao comportamento potencialmente vergonhoso da mulher, que deveria, portanto, restringir suas ações aos ambientes privados. Na Argentina da década de 1960, a situação se repete, uma vez que as obrigações familiares (e, assim, o trabalho doméstico) acabam afastando a mulher da universidade e confinando-a no espaço privado. Se, no primeiro caso, o espaço público era o da honra, exercido pelo nobre portador da espada, no segundo caso esse espaço é aquele em que se dá o trabalho gerador do poder econômico.